quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Do teto.

Para Lorena Granja, por quem tenho um carinho gratuito e um bocado maior do que eu esperava ter quando a conheci.


Fiquei pensando, na última noite, sobre a sua garota que deseja que o teto caia pra que o reconstrua. Fiquei cogitando os caminhos que a levaram a essa letargia, quase medo, quase sair correndo. Às vezes você me faz lembrar aquela metáfora do escanfandro com uma borboleta dentro, me intriga o por que de você ter se enfiado nesse escanfandro, mas isso não vem ao caso. Fiquei pensando em tetos e em quando o meu caiu.
Eu tinha um teto bonito, bem familiar, madeira e estrelas de plástico, ventilador. Nesses surtos que a gente dá quando se sente só, desparafusei o ventilador, mas o mantive no lugar, quem olhava achava que estava em perfeitas condições. Até eu, um dia, esqueci e o liguei. Com o ventilador, menina, vieram abaixo o teto e a casa, e eu...bem, fiquei fatiada. Fatias finas, ensanguentadas, doloridas de mim. Demorei um bocado para decidir refazer o teto e a vida. Refiz da minha forma armengada, mas refiz. No entanto, meu novo teto ficou fraco e toda vez que tentava um ventilador, tudo caía novamente em cima de mim. Perdi a conta de quantas vezes fiz isso.
Quando, essa noite, pensando no que você escreveu, olhei para o meu teto quebrado, vi uma estrela. No fim das contas, talvez eu tenha feito tudo errado e nada disso tenha a ver com refazer. Talvez todos os ventiladores tenham derrubado meu teto pra me mostrar que eu preciso mesmo é de uma clarabóia.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

11 desejos pra 2011.

1-Desejo que em 2011 as coisas não sejam tão difíceis e, se forem, que não nos deixemos tomar pelo desespero e pela letargia, que possamos seguir em frente, peito aberto, mesmo com as feridas em carne-viva.

2-Desejo que não só nesse ano, mas em todos os que virão se o mundo não acabar em 2012, que tenhamos tempo livre não para o tédio, mas para as pessoas que amamos. Que tenhamos algum tempo para nos entediarmos também, para que valorizemos a diversão.

3-Desejo que possamos viajar, se não para outra cidade, para dentro de nós mesmos e das pessoas que nos cercam; que tenhamos bons encontros, boas partidas e bons reencontros.

4-Desejo que andemos de mãos dadas com aquela pessoa, aquela única pessoa, que tendo aparecido ou não até hoje, é a quem gostaríamos de dar a mão.

5-Desejo que os beijos sejam doces, que os abraços sejam plenos e que os olhares falem coloridamente.

6-Desejo que a faculdade ou o trabalho sejam cansativos o suficiente para que, ao sentarmos em algum lugar com um amigo só queiramos falar bobagens, mas não tanto que pensemos em abandoná-los.

7- Desejo que nos apaixonemos pelas grandes sensações inesperadas e passageiras, que possamos beber de tudo o que elas podem nos dar; seja a intensidade de um cheiro, seja o calor provocado pelo sol que nesses dias parece castigar ao invés de acariciar.

8-Desejo que, pelo menos uma vez no ano, possamos ver a família toda reunida, mesmo que a sua seja cheia de picuinhas e desentendimentos, porque ver a família junta nos faz pensar no futuro que queremos para os nossos filhos.

9- Desejo que consigamos ir a bons shows, boas peças de teatro ou boates, bons restaurantes, sempre acompanhados de quem nos faz aquele bem danado. E que haja bons livros e que não nos falte dinheiro, porque mesmo que ele não compre felicidade, financia a nossa alegria, nossos quitutes e nossa bebida, seja água ou cerveja.

10-Desejo que, por mais brega que isso soe, possamos seguir o que dizem nossos corações, que sonhemos um pouco mais do que o de sempre, que nos declaremos, mesmo na insegurança, que sejamos verdadeiros com os outros e conosco, porque a verdade é que estamos tentando nos enganar o tempo inteiro.

11- Por fim, desejo que consigamos ser leves e deixar as coisas fluírem, que tenhamos fé na vida, porque sem fé, no que quer que seja, seja no inconsciente ou no comportamento, seja em deuses ou em gnomos, seja em você ou no destino, sem fé, não dá pra seguir. E eu desejo que nós sigamos.

No mais, que o Ano de 2011 seja pleno de qualquer coisa boa, que seja um ano pra ficar na gaveta de melhores memórias quando estivermos velhinhos. Feliz Ano Novo!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Every now and then.

Sua presença é a primeira flor a desabrochar na primavera dos sentidos. Os olhos como a imagem presente e incansável da criança que eu quero ter. Eu te vi crescer, meu menino, mesmo muitas vezes não estando lá quando você crescia. Degustei todas as suas estações, da raiva ao desencanto, da chance de um novo amor à aceitação da inevitabilidade das coisas entre nós. Sua presença é sempre a primeira folha a cair no outono, os beijos, as que a seguem, um a um, se acumulando sobre a terra. Adoraria ter-te todos os dias em minha vida, como um café ou um cigarro, mas sigo meu rumo, inabalável, sem a sua permissão para aportar. Em que homem você se transformou, patinho! Que homem lindo... Seus defeitos são adoráveis, e não é como mulher apaixonada que lhe digo isso, é como observadora atenta - e como vivo a observar-te! São tantos que poderíamos ter uma biblioteca temática para os nossos filhos, mas, incrivelmente, nenhum deles é realmente imperdoável, nenhum deles me dói quando seguro sua mão, nem a sua indiferença. Seus carinhos têm o tom mais terno, mesmo quando não é ternura que você quer demonstrar. Mãos frenéticas, boca entreaberta, olhos frios, nariz torcido, declarações de amor não-românticas, você me encanta, baby, você me encanta.


"De lembrar do punhal, da dor, do cheiro, dos seus olhos em mim, uma estrela que no céu se ofuscava."

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

N O W H E R E.

Como um estrangeiro em casa de ninguém, transito entre os mundos mais imateriais da realidade que não me engole, mas me cerca. Como o ser etéreo dos sonhos indecifráveis nas noites quentes de lençóis frios e incompletos, sabe-se lá de onde venho, sabe-se lá para onde vou ao fim da noite. Que dia e noite confundo e já não sei o que é fala ou o que é distorção. Sendo essa criatura que só se encaixa em sonho, sigo esses caminhos sem nortes, bailando suavemente com a solidão e indo à sacada para fumar um cigarro quando ela me cansa os ombros. Repassando a lembrança do único momento no qual pareci fazer sentido, passo os dias vagando na tentativa de descobrir onde, quando, por que fui perder o fio prateado do sonho. É que quando pareci fazer sentido, eu não era só um charuto, era qualquer coisa de intermédio que por um olhar viraria cigarro ou elefante. Mas o sonho me quis piteira, e piteira não me era possível ser, sou de gasto. E nessa inutilidade, meu sonho me fumou.


Sugestão: Antífona - Cruz e Sousa

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O grito. (Edvard Munch)


"O grito interno que só você ouve. O grito interno que só, você ouve."
[autor desconhecido]


sexta-feira, 29 de outubro de 2010

desses amores que deveriam morrer.

E ela pensava muitas vezes
se usava uma pistola ou o gás do seu fogão.

[IRA! adaptado.]

sábado, 25 de setembro de 2010

de palavras que não bastam.

que quando você põe sua vida na balança e analisa as coisas às quais valorizou e valoriza desde que se lembra, é fácil encontrar uma linearidade apesar das mil fases e faces pelas quais passou. lançando um olhar atencioso ao estilo de vida que levei e levo, estou estampada em minhas roupas, caras e bocas, nas letras, sem falar no meu discurso sobre as mínimas coisas. é que eu nasci pela liberdade, para a liberdade. ampla, geral e irrestrita. essa que se toma por quase agressão, por anarquia, por loucura. essa liberdade de fazer o que dá na telha com quem bem se entende, de falar palavrão, de sentir vontade de trepar, de sacanear os deuses e zombar do preestabelecido. não nego que sou, como todo mundo, relacional, mas me nego desde sempre, desde que me constituí enquanto "eu", a ser escrava dessas relações. e em mim, comigo, é a mesma luta diária, que saí nesse planeta também e tenho os maus hábitos dos meus avós. sou e fui uma porção de personagens, todos eles escarnecendo a mocinha que, por conforto e cuidado, gostariam que eu fosse. sou aguda, afiada, sou isso tudo que não esperavam que eu fosse, que não esperavam que "mulher alguma" fosse. sou isso meio escroto, meio sarjeta. meio flor também, sou isso meio flor-de-lótus. que nasce dos cantos que envergonham, que expõe, peito aberto, cada chaga e cada desejo. e vivo num mundo onde ter tesão não é fétido nem vergonhoso, onde vive-se de amor, não de aceitação, vivo no mundo das minorias podres, onde as maiorias não valem mais nem menos, onde as maiorias não existem. vivo num mundo livre, não me leve a mal, vivo num mundo de Corações.

"I hope someday you'll join us and the world will be as one."

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Da fragilidade.

eu peço pra deus proteger-te.


é que, na vida a gente às vezes se torna meio objeto, meio material. material não de "apegado ao mundano", material como vidro, plástico ou tecido. a gente às vezes se torna aquilo que forma alguma coisa, não a "coisa", um pedaço da situação, essencial e incompleto, nunca ela própria. e a gente se complica na impotência do que não somos nós, mas que é de nós formado. e se fosse possível, uma ou duas vezes, simplesmente sumir daquele momento e escapar do que -por deus!- não deveria acontecer, a vida seria mais solucionável?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Da fome.

Não vou perder nossos tempos aqui falando de infelicidades e desesperos, nem vou dizer que tudo permanece incompleto, dizê-lo nada mudaria. Vou lhes contar de minha fome, minha eterna fome. Mais de um ano se passou desde a última refeição satisfatória, desde que comi e fui comida com as mãos, os olhos, boca e tudo mais, desde que meu coração deu aquele tipo de batida, você sabe do que eu estou falando. Estou faminta, não nego. Mas minha vontade de comer perdeu-se nas tentativas desesperadas de encontrar o que me apetecesse por um ano e tanto. A fome transforma-se em enjôo e melancolia quando se prolonga demasiadamente. E andei entupindo -me de balas de leite e chicletes rezando que saciassem tal necessidade emocional, mas isso me abriu um buraco negro no peito. E agora o meu coração só suga e tudo o que chega perto de tocá-lo se perde pra sempre. E meu peito continua faminto dessa fome que não mata nem deixa viver.

terça-feira, 29 de junho de 2010

De paz.

É como ohar aquela sua pratileira que estava um caos e ver os livros que você mais ama empilhados na ordem de importância que têm na sua vida. É poder olhar nos olhos de quem te pergunta se está tudo bem e poder dizer com toda a certeza e com todo o orgulho "está tudo em paz". E quando digo paz, não me interprete vulgarmente, eu digo paz. A paz de saber que cada célula do seu corpo está colocada no exato lugar onde deveria estar e que cada centímetro de céu é mais um centímetro seu, você pode explorar ou não. "É se olhar no espelho, saber que é humano, ridículo, limitado, que só usa dez porcento da sua cabeça animal" e sorrir, tudo bem em ser o que é, qual o problema? É ver que todo esse tempo, que antes era tão pouco, é tão grande e tão flexível... É não ter mais tanto sono, não, mais que isso, é não ter mais aquele desespero de dormir. É gostar do prazer e gostar da dor de ser quem é e degustar cada segundo com talher de prata, mas com gosto de comida pega com a mão. É quando a única coisa que lhe falta realmente são aqueles clássicos que você não leu, mas que agora, com tanto tempo, sabe que poderá ler. É sentir-se uma criança, pura e forte como uma criança, que se sorrir e mostrar o muque é capaz de vencer todos os dragões, nem comento sobre os moinhos de vento.


É saber que por mais frio que seja o inverno, aqui ou em algum lugar do mundo, sempre existirão as flores.

domingo, 6 de junho de 2010

Ao menino dos olhos de travesseiro.

Eu diria "oi, casa comigo?" e você riria sem graça, achando que eu era só uma chapada qualquer que encarnou em você. Você diria "hã?" com aquela cara de "alguém me tire daqui" que eu não conheço, mas consigo imaginar perfeitamente. Eu diria "poxa, seria legal casar com você", ignorando a sua cara e a resposta e rindo freneticamente. Você teria ainda mais certeza de que uma chapada encarnou em você. Talvez não, talvez você tentasse me explicar que não dá pra casar assim com alguém que você não conhece e que simplesmente te fez essa proposta. No fim das contas, nos vejo rindo, largados em algum canto com base de pedra como duas crianças travessas. Não, não cogito a possibilidade de você sair anadando como se eu não existisse. Veja bem, meu menino, as coisas nem são tão somente essas explosões de cores e faíscas de estrela que eram na noite passada. Todas as cenas que a minha percepção alterada realizou com você existem então para mim neste e noutro plano. Que quando, por um instante, meus olhos deitaram-se sobre os seus, entrelacei minha vida na tua e fiz delas colcha de retalhos dos tons mais vibrantes que a visão possa alcançar, tons como aquele seu rubor, sabe-se lá por que motivo, e esse azul que ficapulsando na minha cabeça. E costurei em mim, noites e noites nas mais diversas dimensões, as tuas mãos e a tua boca. Como num caleidoscópio de mãos e pernas e braços e bocas, nos multipliquei infinitamente, passado, presente, futuro com o você que eu criei deitada nos seus olhos por uma fração de segundos.

Então, pra não dizer "oi, casa comigo?" eu posso fingir que quero menos e pedir seu msn?

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Coelho.

Café numa canequinha de três centímetros, seis cigarros, nenhum amigo, vinte carreirinhas, pó de corações partidos, ventilador, erva, coca-cola, três ou quatro pares de meias (todos sujos), perfumes, batons, nenhum amigo, uma tv sempre desligada, fotos de outrém não significam nada pra mim, estrelas cor de rosa, o ventilador de novo, e de novo, e de novo, nenhum amigo, o telefone não toca, a campainha não toca, a música não toca. Relógios, muitos relógios, todos atrasados.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Hoje não, por favor.

Estava aqui pensando no que ia escrever aqui, pensando em amor, de repente, saiu pra um amigo meu no Facebook, naquele mesmo aplicativo o seguinte trecho de Caio Fernando.

"Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás... cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não consegurás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele..."



Eu não sei se vou parecer, mais uma vez, excessiva e idiota, mas vamos lá.

Você já amou alguém tanto, tanto que o tempo parece não existir e cada palavra parece um novo encantamento daqueles de início de namoro quando tudo são flores, amores e blábláblás? Você já amou alguém tanto, tanto que poderia correr por horas a fio se canalizasse esse amor para as pernas? Você já amou alguém tanto, tanto que o seu colchão ortopédico parece duro demais e o friozinho do seu travesseiro de penas de ganso congela os seus dedos? Você já doeu de saudade varrendo a casa e lembrando das broncas de sujeiras embaixo do tapete? E já se desesperou pensando no que vai acontecer quando acabarem as bobagens pra encher a cabeça e você tiver que sentir essa falta de novo? Você já foi fiel a um sentimento ao ponto de perceber, anos depois, que nunca mais conseguiu se imaginar na cama com alguém já que esse alguém nunca mais seria ele(a)? Você já quis sair andando e nunca parar? Talvez, e só talvez, você fosse parar onde gostaria de estar. E talvez você devesse estar onde gostaria de estar, porque amanhã...amanhã nunca se sabe. Amanhã pode não existir mais o seu lugar. Ou o caminho até ele pode ter se perdido. Daí pra onde você vai? Daí...pra onde eu vou? Ai, faz o que você quiser, mas hoje, por favor, só hoje, não me deixa dormir com esse vazio borbulhando no peito.

sábado, 8 de maio de 2010

But I'm just a soul whose intencions are good.

"Por que você parou de escrever?" - me perguntaram.

Haveria muita coisa a dizer se em mim não fosse puro vácuo emocional. Vivo aqui, rasa e prematura, encubada em convicções que já não me dizem nada. Tudo é puramente relativo e eu já não bato o pé por coisa alguma; tanto faz. Meio medíocre, meio fraca. A única coisa certa aqui é a saudade, florescendo em todos os cantos do quarto, da sala, em cada esquina e sorriso - saudade daquelas explosões de amor e ódio, depois amor amor amor, sem vírgulas. E tudo o que eu faço é pra amenizar essa dor meio absurda, meio surreal, e fujo às pressas para as cores da colina. Cores, sonhos em quedas, o mundo dissolve e estoura o meu corpo, mas de que outra forma tão pouco de tudo seria suportável? O pouco pesa, magoa e divide-se/me em mil pedaços acumulados em livros, músicas e no girar calmo e tranquilizador do ventilador. O pouco criou toda uma parafernália de sentimentos lisos e abraços soltos em meu corpo. O pouco criou os apertos, o tesão, o "fica comigo esta noite e não te arrependerás". O pouco cria a cada dia mais poucos em mim, e de poucos em poucos me faço aqui em pouco bem estar - que já é melhor que a morte de antes. Mas não se engane, o pouco junto nunca, nunca, se torna muito. O pouco junto se torna menos ainda. E nesse trapézio de sempre, de desde a infância, se eu cair, não há rede pra me amparar. Mas eu sou a queda, lembra?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Como as pessoas fazem quando vêem a petúnia...

"Sabe do que eu gostaria? De fazer amor e que depois você fosse embora, porque eu vou ficar aqui e se você tornar as coisas difíceis pra mim talvez eu chore tanto que nunca consiga parar."


A vida às vezes toma uns rumos incorrigíveis e muito, muito difíceis. E você se perde tanto nos labirintos do seu próprio descontentamento que acaba esquecendo o que diabos pretendia fazer quando se moveu para onde se encontra agora - e, aos menos profundos, eu não estou falando necessariamente da mudança de espaço físico. Sou, nesse incansável escape de mim mesma, um amontoado de cicatrizes mal fechadas e dores refreadas e por vezes a minha risada verdadeira soa tão verdadeira que, um milésimo de segundo antes de reverenciá-la, me assombro com a possibilidade de sua existência. Verdade, sou toda flores e pode ser que elas amanheçam secas, mas sou conjunto de pétalas vermelhas, azuis, amarelas, todas fluorescentes por hoje. Amanhã posso esquecer até o que são flores, como tantas vezes esqueci pessoas e sensações, mas hoje elas brotam das minhas juntas e perfumam o meu quarto. É mesmo cruel que eu não goste de flores de plástico.

terça-feira, 23 de março de 2010

I'm pretty messed up too.

Quando, depois de tanto, me vi tão diferente do que imaginava que seria e tão sólida, ri-me de minhas elucubrações adolescentes e me admiti mais madura do que de fato estava e estou. Me olho agora no espelho e "quem sou eu?" já não é a pergunta mais díficil que tenho para responder. O que fazer com essa árvore que me solidificou o peito e perfurou o estômago, que se rego ela cresce e se deixo secar ela me mata? Sou ansiedade líquida e escorregadia. Sou côncava e convexa, flexível de modo a esquivar-me de qualquer um que possa querer qualquer coisa de mim e, na insistência, sou aguda garra de tigre.Certezas já não me cabem, contentamentos não se mantêm, sou terreno infértil de queimada.E se alguém acha que vê por trás da máscara, ponho mais sete camadas de tinta para não correr o risco.Não é medo, entenda, é que não tenho tempo nem cabeça para outros mundos, estou muito atrasada.Quer chá?

domingo, 7 de março de 2010

06/03/10

Ao som de Hardneja Sertacore numa cozinha que é minha, mas não é minha, desculpe, mas eu vou chorar.Tudo faz parte de um exercício de sobrevivência absurdo que não se parece exatamente com uma forma de vida.Sou, aqui, uma peça descontraída e pontiaguda demais pra me encaixar nessa cidade quebra-cabeças.Cercada de pessoas absolutamente diferentes aqui, sou igual demais.Nada me diferencia de todos os rostos felizes ou frustrados, sou toda feições e sabores dispensáveis.Meus sentimentos já não são poderosos e minha vontades podem esperar, fiquei coracionalmente pobre.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Selves.

Às vezes eu soo bem arrogante nesse meu auto-conhecimento. Não é que eu me sinta melhor que as outras pessoas, não é mesmo. É só que a necessidade de auto-afirmação dessas pessoas que não têm muita certeza de quem são e do que querem me irrita como um cricrilar a noite inteira sem descanso.Não que eu queira mudar ninguém ou reprimir, eu só acho que repetir infinitamente ao mundo o quanto você pode ser incrível é mais pra tentar se convencer disso do que qualquer outra coisa.Talvez seja mania de aspirante a psicóloga.


Ai, demorei demais escrevendo, perdi a linha de raciocínio.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Hey, Rei, eu também errei.

Se eu pudesse voltar no tempo, não faria nada igual.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Do rato morto no peito.

Eu ia escrever, mas alguma coisa me levou ao orkut de alguém que eu nem conheço direito e eu achei isso e me veio como uma granada no peito.

"What hurts the most, was being so close and having so much to say and watchin you walk away... It's hard to deal with the pain of losing you everywhere I go, but I'm doin it,it's hard to force that smile when I see our old friends and I'm alone, still harder gettin up, gettin dressed, livin with this regret. But I know if I could do it over, I would trade, give away all the words that I saved in my heart that i left unspoken."

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Desses dias iguais.

Naquele ponto em que nada do que você diga dirá qualquer coisa e que seus retalhos são quase um código de barras nessa vida de compra e venda de si mesmo, o silêncio se torna tanto e tão profundo que você se perde nele dias inteiros. "O caminho não é out, é in" - o que fazer se in passou um furacão e tudo é pura cidade aniquilada em chamas? Go out, rock it all, start a fight and make a mess.Não tem nada in, sou mundo destroçado.Não tem pra onde ir, o que fazer, não tem sequer força nas pernas, ando por aí aos tropeços e rastejos chapada de qualquer coisa que me deixe high, só porque o fundo do poço já perdeu a graça.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Do beijo.

Depois de tantas bocas, em mim e nele, nada, absolutamente, mudou. O contato das nossas peles ainda arde, como sempre fez, e aquele beijo nunca é só um beijo. É meio como sair do próprio corpo e mergulhar numa banheira de prazer pleno. Sob medida para o meu beijo, aquele beijo me fez esquecer tudo milhões e milhões de vezes em poucos segundos de respiração ofegante e lábios recheados daquele mesmo velho sentimento de completude. Ora, que bobagens. Isso não muda nada, muda? Nada muda alguma coisa, nem o sentimento, nem a decisão.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Assentimental.

Há um pouco, um resquício, um sobressalto de nós na minha falta de ar eterna. Qualquer paliativo, cá pra dentro. Entre Dramins, Lexotans, cigarros, baseados, beijos sem amor, mãos e pernas se roçando e qualquer coisa etílica que não me desça doce, eu acordo todos os dias cansada de tudo. E, todos os dias, levanto e me encho de programas maravilhosos e paetéticos* que me tocam apenas nas beiradas e que têm por único objetivo ter o carão de "i'm fucking over it". E o corpo já nem suporta, se desmonta e dói, tudo dói. E ando frígida, mas não no corpo; lá dentro é que sou uma cachoeira gelada onde as águas passam, devoram as pedras e seguem pra nunca mais. E em mim agora é só isso, eu sou só isso.



*neologismo: de paetê.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

De outro.

Ele veio assim meio como quem não quer nada, meio como quem quer tudo de uma vez só e me adorou por uns dias.Nada mais do que algumas horas de "você é linda" e uns sorrisos já quase não sentidos.Apertou meu corpo contra o seu e fugiu das minhas mãos a procurá-lo.Foi curto e marcante, admito.Diferente de tantos outros que me passaram por aqui, ele foi suave e infantil, foi doce.Mas já ninguém é mesmo capaz de fixar as garras em mim sem afundar, que sou areia movediça e assim ele não ficou.Tudo o que restou dele aqui, no fim das contas, foram duas marcas roxas no meu pescoço, uns sacos de Doritos no lixo da cozinha, o papel [ainda com filtro, mas sem tabaco] de um cigarro não fumado no chão do quarto e a quase certeza de um tempo interminável de solidão que me vem pela frente.