segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Cloud Atlas

Para ler ouvindo "Pra sempre será" - O Terno


Eu amei. Eu me lembro que um dia eu amei. Parece fazer décadas desde então, mas eu lembro que foi um dia desses que eu amei. A mera presença dele fazia o mundo explodir num calor úmido que começava entre minhas pernas e aquecia oceanos e cachoeiras por todo o mundo, a sombra de qualquer árvore virava nuvem a qualquer nota da voz dele, o asfalto virava terra fértil de onde brotavam as mais exóticas flores a cada passo que ele dava. Quem era ele? Disso eu não me lembro mais. Não o nome, o sobrenome, essas frivolidades minha memória guardou. Mas quem era ele, este homem que eu amava? Quem foram esses tantos homens que amei, estrela cadente após estrela cadente, pedindo aos céus que ficassem? Que luz era mesmo aquela que eu via no fundo da alma deles que, como feitiço, encantava o meu mundo? Ai, um dia...um dia eu amei. Eu lembro da profunda emoção dos primeiros toques, da imensa euforia do primeiro “eu te amo”, dói saber que eu amei. Não sei se me restou por onde amar dessa forma tão profunda que faz o mundo se refazer, que transforma a Lua em atriz de musical, que aguça o olfato como que pelo estômago. Mas eu me lembro que um dia eu amei. Amei como quem se joga do penhasco com a certeza de que vai voar. E voei. Verdade seja dita, eu voei. O amor dá asas a cobra, mas depois tira.