segunda-feira, 26 de outubro de 2020

"Se eu morrer, não chore não, é só a Lua"

Dias de desabrochar e dias de cair ao chão. Hoje eu gostaria de falar da beleza da vida, mas o dia está nublado e eu amanheci chovendo. Estou cansada. Me sentindo o máximo em flor: exuberante, talentosa, divertida, inteligente, agradável, etc, etc, estou cansada. Hora de cair do galho. Hoje eu só quero ser chata e entediante e sem energia. Hoje não tenho energia. Só quero olhar o céu, ouvir umas músicas tristes repetidamente e fazer um silêncio tão profundo que o mundo inteiro ouça. Mas sou tão chata, tão chata, que escrevo. E coloco palavras no mundo pra romper o meu silêncio. Os ciclos lunares são assim, nunca se sabe o que vem, mas sempre sabemos que vem. É de se abrir em flor pra esperar a morte e renascer miúda pra ser flor e morrer de novo. De novo, e de novo, e de novo. Falamos sempre da beleza disso, quando falaremos da chatice? Quantas mortes vive uma mulher? Quantas vidas? De quantas vidas morre uma mulher? Inspiro pesadamente, morrer tanto cansa. Aguardo ansiosa para renascer.


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Not now.

 Nem aqui, nem agora. O tempo passa em ritmos variados, cada vez mais distantes e mais próximos de mim. Tudo o que aconteceu muito anos atrás volta para me dizer que o que não se mata, não morre. É precisa aprender a arrancar raízes. Tenho dificuldade. Cavo fundo, às vezes mais fundo do que minhas mãos alcançam. Cavo com a alma. Mesmo assim, não vou fundo o suficiente. As raízes da vaidade são profundas, muito muito próximas do centro da Terra, tanto que parecem próximas do centro de mim. Me confundo entre intuições e vaidades, fantasias e afirmações, desejo... Pra que(m) eu faço mesmo? Sou eu ou é o fantasma do passado que, como num conto de Natal, assume a condução? Nem aqui, nem agora. "A gente nasce todo dia..." Pra que mesmo, Gonzaguinha? 


Caleidoscópicas confusões, grandes mistérios do existir, quantas vidas dura um silêncio?

A mim, escolho eu todos os dias.

sábado, 3 de outubro de 2020

Don't call my name

 E teve aquele amor, aquele que era tudo. Que me olhava por alguns momentos e parava o tempo pra me dizer que eu era linda. Teve esse, esse que nunca foi, mas que tanto foi, esse que deixei partir de tanto medo, e que quando voltei já não era meu. Esse que me fazia sentir única, ainda que não fosse, que enchia o peito com a mera presença. Ele chegava em seu cavalo branco e toda a existência sorria em flor por avistar aquela cor laranja, tão laranja, dos seus pêlos, que tomava o mundo inteiro. Teve esse grande amor que eu não vivi e que nunca deixei de viver. Ele era tudo o que sonhei, todo detalhe, cada pinta, cada sarda, tanto brilho. Ainda choro vendo-o feliz no amor que encontrou, parece que ela é tudo. 

Eu? Eu sou a falta. A fantasia do que não suportei viver. O arrependimento de quem voltou onde não lhe cabia porque o que o que tinha nas mãos era tão precioso que só podia fugir. Ele nunca vai saber, e vai sempre me ver como mais uma das mulheres que passou por sua vida, se é que sou uma das mulheres que passou por sua vida. Sem grandes atributos. Ele será sempre o que deixei escapar por entre os dedos.