segunda-feira, 5 de agosto de 2019

"É preciso permitir que coisas lindas aconteçam"

Há um furacão que nasce num espaço entre-costelas e revira os sentidos, é choro e riso e uma emoção à flor da pele que não cessa. É quando toda dúvida inexiste, como se por alguns momentos fizesse estivesse no centro da força pura da criação que apenas sabe das inscrições de antes do berço. Como sentar para tomar um chá de destino com o Destino. -Certo, mas me explica aqui esse momento? -Ah, querida, há coisas que apenas precisam ser, pequenas poeiras de sina que geram grandes explosões, como um bater de asas de borboleta da vida humana. Me embriago de gratidão daquele jeito choroso de embriaguez, por estar viva, por amar, por sofrer, por poder mesmo sem saber que posso descortinar quem eu sou. Fazia um tempo que não batia sol aqui dentro e agora tudo se abre em beleza, como um caleidoscópio maior ainda do que eu. Quisera poder capturar a explosão de cores que encontrei nesse pedaço d'alma e que tomou minha vida repentinamente. Alma tem cor sim, Chico César, mas não uma só; a minha tem uma aquarela.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Então é isso! (ou A Carne dos Deuses em minha cara)

Eu te vi lá, perfeito, moldado, forjado - na forja mais óbvia da divindade - para aquilo, exatamente para aquilo. Como ver uma cachoeira descendo ou o mar ondulando, aquilo que é e apenas é, porque assim tratou de ser. É de uma beleza estonteante ver alguém fazendo aquilo que nasceu pra fazer, que se pariu por escolha própria para fazer. É preciso de uma força descomunal e, no fim das contas, essa sou eu projetando em você toda a força que eu não tive. Bem, talvez eu já tenha agora. Eu fico repetindo na minha cabeça "eu não sei o que isso quer dizer, eu não sei o que isso quer dizer, eu não sei o que isso quer dizer", puta mentira descarada, eu sei exatamente o que isso quer dizer, eu soube da primeira vez que eu te vi anunciando um espetáculo. Uma das coisas que isso quer dizer é: eu invejo você. Não me leve a mal -você mal me conhece!-, essa inveja vem do rio mais profundo da admiração. Me faltou coragem, Felipe. Quando chegou a hora, -e era a hora, eu sabia que era a hora!-, me faltou coragem. Ontem eu saí de lá me lembrando de uma peça que nós fizemos na quinta série, eu não sei você lembra, eu lembro de você, eu lembro de uma luta de espadas e dos tantos ensaios, eu me lembro de passarmos horas e horas coreografando, ensaiando e construindo. Ali eu ainda não sabia, fui descobrir muitos anos depois, no ensino médio, mas ali - lá na quinta série- eu já sabia. Mesmo não sabendo, eu sabia. Por mais que possa parecer, eu não estou ficando maluca, é que na semana passada eu acordei de um sono tão profundo que é como se a vida estivesse ainda tomando os primeiros contornos dos dias depois do útero. Era isso, meu amigo, era isso que eu queria ter feito da minha vida. É isso que, mesmo sendo uma boa profissional, bem sucedida, etc, falta. E eu fiquei todos esses anos me perguntando, me debatendo, procurando, procurando, procurando, "onde está a alma, afinal de contas? qual é o meu propósito? onde está a minha alma?"...estava na minha cara o tempo inteiro. E de repente, tudo faz sentido. É por isso que eu fui quem eu fui, fiz o que fiz e fui onde fui, é por isso que eu sou quem eu sou, é por isso que minha alma fica se debatendo dentro deste corpo meio frágil, meio pouco, é isso e é por isso que ela fica gritando "mais, mais, mais, mais, mais!!!". Um artista é uma das faces da Deusa.



Eu nunca assumi, isso de onde eu venho nem é possível.
Eu quero ser uma artista e eu estou fodida de medo.


"E por mais louco que possa parecer, não me ouça! Pois posso ser apenas mais um tijolo daquele muro que você quer passar, simplesmente passar..."