segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Do que era pra ser de passagem.

Não era pra significar nada, algumas noites mais quentes, nada que quisesse durar. Mas eu quis, que dessa minha natureza rebelde não consigo me livrar. Eu quis que ficasse e que naquela profundidade pudéssemos viver, como Neruda e suas noivas de fundo do mar... Fantasiei que juntos poderíamos mergulhar e não nos afogar, dividindo fôlego, cada um a sua vez subindo à superfície para encher os pulmões. Mentira, nunca pensei que faltaria ar entre nós. Continuo não achando, bem verdade. Talvez você esteja certo e seja pura fantasia, mas o vivido era tão verdade, era a própria o oxigenação, vivemos a mesma coisa? Esse não é um daqueles amores que doem e rasgam por não serem vividos, afinal você me encontrou já tão rasgada... É um daqueles para os quais olhamos com uma espécie de pena, com um olhar meio triste e choroso não por causar dor, mas pela despedida de algo tão belo e tão potente que está fadado à morte prematura, como uma criança que morre sem jamais saber todas as belezas que a vida lhe revelaria. Ai, se a vida tivesse um pingo de dó de mim, nossos caminhos talvez se cruzassem noutra hora, noutro tempo, noutra vida, quem sabe? Onde pudéssemos descobrir se tanta beleza sobrevive... Onde pudéssemos nos descobrir...