terça-feira, 24 de novembro de 2015

Dos cabelos brancos e da solidão existencial

Percebo agora o imenso desespero de ser um só no mundo. A absurda solidão de que ninguém jamais saberá de fato quem sou e quando, onde, por que, como sou. Que todas as músicas que sei de cór, ninguém saberá do meu saber de todas elas, ninguém nunca verá as cenas que ficaram gravadas em minha memória dos filmes, peças, da vida real também. Ninguém vai saber da beleza que vejo no mundo, ninguém mais verá as flores que vi, que vivi. Ninguém saberá dos minutos que contei, das lágrimas que sequei no travesseiro, das paixões que sufoquei por medo ou cansaço, de como imaginei cada uma das páginas dos livros que li. Ninguém saberá das guerras que travei pra esquecer ou pra seguir em frente, de cada dificuldade, de toda vitória, ninguém vai retomar minha respiração ofegante nem cada suspiro de tesão ou desconsolo. Ninguém saberá dos meus sonhos, dos castelos, dos príncipes, dos labirintos, ninguém saberá das possibilidades que escolhi não viver, mas que cogitei dia após dia. Estou só, terrivelmente só, incondicionalmente só. Estamos todos, bem verdade. E por mais lógica e simples que seja essa percepção, nessa noite ela me golpeia com a precisão de uma flecha atravessando meu corpo verticalmente e, qual adolescente, me angustiando ante à falta de sentido para tudo isso. Tanta construção, confabulação, tanto de sensibilização e ninguém nunca vai saber. Tanto disso vai morrer em mim, comigo, agarrado às minhas pernas, engolido a custo na minha rinite ou na minha crise de coluna, ninguém vai saber de minha aflição, de minha solidão, de meu cansaço. Saber-se-á de meus sorrisos, de meu humor, de minha voz, sem dúvida lembrarão de minha dança, de meu cabelo, talvez de meus olhos, mas de mim, que não sou às vistas, quem saberá pra lembrar?

domingo, 25 de outubro de 2015

Sobre a urgência de ser comum.

Me considerei sempre uma daquelas pessoas interessantes, sempre cheia de livros e músicas e reflexões sobre a vida, o universo e tudo mais. Costumava pensar em mim como uma daquelas pessoas sentadas nos bares do Rio Vermelho sempre discutindo sobre alguma coisa inteligente, cheia de opiniões relevantes sobre os mais diversos temas. Acontece que mais do que tudo isso, eu aconteci. E por mais opiniões que tenha sobre os mais diversos temas, pouco me interessa nesse acontecimento que eu sou hoje discutir sobre a mais nova abstração da moda. Explodam-se Caetano, Chico, Bethânia, explodam-se Hitchcock, Goudard e Glauber Rocha, fodam-se García-Marquez e Milan Kundera, Platão, Nietzsche, Freud, Neruda e o caralho a quatro, sequer aceito o contrassenso de estar escrevendo sobre isso. (Fato é que se não escrevo, pra onde vai?) Talvez escreva pra me fazer compreendida, como se simplesmente ser não fosse suficiente, pareço estar justificando essa novidade, como que pedindo permissão para ser o que já sou e o que posso também ser além de tudo. As multidões nos últimos anos têm me mostrado tanto sobre tanto e foi com a euforia que aprendi a viver cada vez mais livre, é com ela que me banqueteio e nela que me embrenho sempre que posso, nela sou milhares de músicas, gírias, danças, acontecimentos outros que não eu só. E a cada dia, sempre mais, quero ser multidão. A multidão com todos os ritmos cabíveis, com todo senso estético, com toda moda e ausência dela, com toda possibilidade de ser que cabe numa multidão, e o que não cabe na multidão? Hoje o que é multidão abarca tudo o que há em mim e nesses tantos outros eus que nos compõem, sem preconceitos, sem exigência de ser outra coisa, porque a multidão é. Simplesmente. E como ela me abraça, eu a abraço de volta.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Trans-fi-gu-ra-ção.

Paixão quando dói, dói é salgada. Tem o gosto do sangue que jorrou da minha boca quando parti o lábio certa vez. Queimadura da caravela que se enrolou na minha perna quando eu era pequena demais pra me proteger. É sal demais em toda comida, desprazer diário de engolir saudade. Mas paixão já não rasga minha pele nem meus pulsos, já não me vira a cabeça feito louca vagando pelas ruas em direção a sua casa, já não me impele à morte. Crescer dói pra melhor às vezes. Saber que se não desvairei até agora é porque o coração aguenta o tranco, e há de aguentar mais, vai saber até quando. Seja como for, na dor ou no amor, melhor é estar inteira. Melhor é a escolha, não o barco descendo descontrolado rio de emoções abaixo. Quem diria que seria eu a perceber?

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Do nó.

As lembranças dos menores detalhes de nós dois atravessam o meu dia em espirais insistentes que não me afastam de nada em ti. O toque da minha mão na sua nuca, do seu lábio inferior no meu queixo, o suspiro, a força com que os nossos corpos se envolveram. Não posso ter tudo e o meu vazio hoje é no lugar que você se instalou.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

simplesmente porque falta barulho.

A falta que me faz o seu sorriso se infiltrou em cada um dos cravos do meu rosto e o dia inteiro se transformou em uma sucessão de cortes dos meus impulsos de te procurar. Eu não sou mais aquela garota que fala de amor. Feels like all this time my heart has been slowly ripped apart and now there's nothing left to feel love or hate or anger. Ficou só essa coisa fria no fundo da garganta, que poderia perfeitamente ser apenas essa gripe, mas não é. And there's no point in calling you anymore but that's all I can think about. And my phone won't ring, your phone won't ring, do you still think about me? "Será que você vai saber o quanto eu penso em você com o meu coração?" Também não tem mais sentido nisso, sem qualquer utilidade, eu queria que você soubesse. Mas você não vai saber.

I miss everything about you. (and i know how pathetic that sounds)

sábado, 16 de maio de 2015

Aos meninos a quem nunca disse olá.

Peguei-me aqui pensando neles, em um deles especificamente cuja voz me causou tantas sensações que hoje, um ano e meio depois, ainda recordo e cujo rosto me lembro em detalhes. Me encontrei aqui relembrando as músicas, os sorrisos, a leveza de pessoas que simplesmente sentaram-se numa praça pra cantar. Despropósito, a vida não proposital atinge espaços tão profundos quando toca o que é de verdade, porque é de verdade. Verdade é que ao longo dos anos tenho tendido a esquecer o prazer de desavisadamente ser, meço minhas palavras, parça. Meço muito mais do que as palavras, meço ir ou não ir com o peso de quem destrói um mundo se fizer a escolha errada. Logo eu, tanto já desmedida. Por hoje quero o mundo inteiro e o descompromisso, o poder que só saber que a vida é possibilidade a cada esquina dá. Eu não quero andar na linha, eu nunca quis, mas por que vira e mexe me encontro fazendo esse esforço tremendo ao invés de andar onde meus pés pisam? De tantos por que's, quando "porque eu quero/quis" deixou de ser bom o suficiente? De que nos valem tantas explicações, calculações, limitações? Que gosto tem a vida previsível, que de tanto procurar já feri minha língua? Será perda de tempo, construção de carreira, casamento estável, filhos em colégio caro, carro do ano, cobertura, café-da manhã, almoço, jantar e lanches a cada 3 horas, senhora respeitável, mãos dadas, olhar distante, peito abafado de tantas atualizações que acontecem por minuto nos sentidos, nas vontades, mas que precisam ser engolidos em prol de uma forma. DE-SE-JO. Como explicar a doçura de desejar, ter e gozar em cada escolha, dia após dia, pra quem (e essa parte de mim que) acha que devo gozar baixinho pra não acordar a vizinhança? Como falar de viver, viver de verdade, pra isso que diz que devo pensar em cada um dos meus passos, inconvenientes, fracasso, programação, teto pra dormir, sapato pra chegar? Não é possível dizer, é possível lançar-se à vida, é possível resistir. Resisto então, entregando-me.


Fugi do tema, por pura resistência (e entrega).
Obrigada aos meninos que não sei quem são, que não sabem quem sou, que possivelmente nunca mais encontrarei e cujos nomes nunca saberei, por me marcarem tanto, despropositadamente, numa tarde cantando e sorrindo sentados no chão de um bar, e só.