segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Bilhete na soleira.

Já que insisto nessa bobagem de papéis invertidos mesmo sendo uma mulherzinha louca para receber flores, essa noite eu gostaria de ter o seu endereço. Não apareceria na sua porta do nada, nem vigiaria os seus passos, eu juro. Hoje é dia de São Valentim e eu te deixaria um bilhete e uma flor. Não deixaria uma rosa ou uma orquídea, que elas não combinam contigo. Essa madrugada, eu te deixaria a flor mais simples e delicada que eu encontrasse no caminho. Seria uma daquelas flores que dizem "thanks for stopping by" e que arrancam um sorriso, seria bom um sorriso seu pra colorir esse dia. É que eu poderia não te ver nunca mais, o que é muito improvável diante do rumo que a minha vida tomou, mas o que você me deu naquelas horas foi impagável. Não tendo o seu endereço, aceitaria o seu número, não te ligaria às três da manhã pra dizer que ouvi Bethânia e lembrei dos seus beijos, porque nesses dias de medo líquido já não faço essas coisas. Mandaria um sms engraçadinho que não deixaria claro o meu desejo de te convidar para tomarmos um sorvete ou um conhaque. Talvez não, talvez nunca mandasse nada e esperasse que o alinhamento dos planetas ou o acaso nos unisse novamente. De qualquer forma, não tenho coisa alguma de você além da lembranças das suas mãos nas minhas pernas e marcas de mordidas nos meus braços, nem sequer sei o seu sobrenome. E como nunca deixo passar em branco, ainda mais em datas românticas assim, fica aqui o meu bilhete na soleira.


Feliz Dia de São Valentim, meu bem. Tenha flores-sonhos.


"O que tem de ser tem muita força." - Guimarães Rosa

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ao menino dos olhos encantados.



Esta noite, particularmente, eu não tenho absolutamente nada a te dizer, menino. Engraçado chamar-te de menino, já que é assim que chamo a todos vocês, mas você é o único que realmente merece. Um menino, "mal começaste a conhecer a vida" e ver o seu coração ser partido inúmeras vezes nesse meio tempo tem sido cansativo até pra mim, que apenas assisti, sem sentir, seus oásis mostrarem-se miragens. Essa sua busca incansável e apaixonada por um amor que te tire de si e te eleve à supremacia de ser completo te leva sempre ao mesmo ponto, barco ancorado ao lado do meu, ambos lamentando certa ausência. Tantas vezes acho que você me entende errado e não chega sequer a perceber que eu não tenho essa sua esperança de que alguma coisa traga as cores do mundo até mim. Não acho que você perceba a sutileza do meu desespero de ter o mundo, e muito menos acho que você chegue a cogitar que toda essa areia me transformou num inquebrantável objeto afiado disfarçado de sorriso e jogar de cabelo. Você não sabe, menino, da Quimera com que me aninhei e que, ao partir, levou um pedaço meu para cada cabeça e queimou, como a um baseado, meu coração e meu amor, para aquecer suas noites noutros lençois. Preste atenção, querido, a cada copo caem um pouco as nossas vidas. E eu, cansada de reticências, cubro-me delas, odiando-as e odiando-me, porque reticências são covardes, assim como essa qualquer coisa lápis-lazúli limitadora em que me transformei. Sir Lancelot, empunhando um violão, um tal sorriso de sol nascente e essa pele meio musical, que não lhe aconteça o que me aconteceu, que o mundo lhe seja um gigante instável e temperamental, não um moinho.