domingo, 21 de novembro de 2021

Dos tantos tantos homens

 Estou aqui mais uma vez chorando sofregamente por um desses amores que nunca aconteceram. Dois encontros, mais nada, e o peso de tudo que poderia ter sido fica sobre minhas costas como uma tonelada. Meu coração criança fabrica estórias sempre sem fim diante de todo encantamento. E eu desejo tanto... Cada mínima centelha de mim queima em amores que não vivi, a dor das minhas costas, o rasgo na minha perna, tudo canta o preço de querer o amor em demasia. Fica essa sensação quente arranhando a minha garganta de um canto de amor que não pode ecoar e crava as unhas no meus pulmões e laringe, tentando abrir espaço nos tecidos. É preciso parar essa magia cujos sapatos vermelhos calcei, eu preciso parar a música no meu peito, apagar as luzes do palco, mandar todo mundo embora. Eu estou cansada, quero fechar os olhos, pode ser apenas por uma década.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Da drusa de lágrima.

 Se chegar à beira do precipício, não se precipite. 


Nem toda chuva é de lavar.

terça-feira, 13 de julho de 2021

"Li num poema que a vida vale a pena"

Sempre me esqueço de celebrar. Ia dizer "às vezes", mas não seria verdade, me esqueço quatros vezes por semana, sem contar aos sábados. Me esqueço frequentemente de amar os amores que amei e nos anseios de não acabar, os lamento. Vestida do reticente tecido da ansiedade, firo-me de seus/meus próprios espinhos sem lembrar das flores que desabrocharam na semana passada. A palavra pesada nas minhas pálpebras -eu amo você-, tantas vezes sussurrada entre sorrisos e beijos, vira ácido nas minhas retinas de ver mentiras. E enganada (ou desenganada) por mágoas que inventei (ou desinventei?) mergulho no lodo de uma rejeição que sofri quando eu sequer existia. Findo o dia, não cantei os beijos siderais e os sorrisos de regar jardins, não coloquei uma maçã com mel na terra e sequer mostrei os meus seios ou as minhas pernas à lua cheia. Quem sou eu agora, que não danço aos pés de uma cachoeira e que sequer tento romper o cheiro do tempo pra refazer a beleza dos dias azuis-cegueira (ou cegonha)? Invés disso, faço e refaço a conta dos deuses, e cobro, a ponta da faca apontada aos céus, como se a lâmina cigana fosse capaz de furar o bucho do universo e lhe arrancar o filho, por pura vingança de quem perdeu o seu próprio feto recém agarrado ao útero. Não festejo o momento mágico do toque de mãos e aquele espaço luminoso onde olhos abriram clareiras sem saberem em minh'alma. Esqueço que sou eu a feitora da magia do amor que planto e vejo germinar nos terrenos menos férteis, tantas vezes mangueira plantada em deserto. Como se Afrodite se enraivecesse e cansasse do amor, como uma flor que recusa a própria beleza e senta-se ao divã queixando-se: -Infernos, essa beleza me machuca, por que não sou cadáver?


Deixo de celebrar a mim, ao amor que sou eu, aos meus olhos que melhoram o mundo, à minha fantasia inventora de potências. Deixo de celebrar a eles, sóis de minhas estradas, brilhando cinco, quinze ou duzentos dias. Na minha mágoa de não ser cadáver, quase me esqueço que a vida é um poema.

sábado, 26 de junho de 2021

Kaos

 Como se uma década não tivesse se passado como se nada tivesse valido, seu toque em minha pele ainda faz o mundo parar. Ainda venero cada palavra que sai da sua boca, mesmo quando discordo dela, palavra sua que é. Há um desespero -meu ou da minha cadela? - de que tudo isso acabe, que nossas bocas de beijem, que nosso amor saia desse plano abstrato. Eu amo você como quem aperta o próprio corpo com medo de explodir de emoção. Te amo como quem teme e confia. Tudo inteiro, nada talvez. Você é tudo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Censurada

 (Es)corro em mim querendo banhar mais do que eu, respingo ao redor. Não caibo em mim - mentira, caibo sim, mas quero mais do que eu sou, quero o que está fora. Tenho desejos sem fim, de tocar, de provar, degustar cada coisa como a uma fruta madura, feito um beijo suculento, inesperado, tão sonhado... E me embriagar em cheiros, hálitos, hábitos... Tanto desejo que me pego a arranhar as pernas cansadas, tentando rasgar de mim as couraças. Desejo enlouquecer, perder cabeças - não só a minha -, desnudar o mundo numa grande orgia dos sentidos (físicos e existenciais).

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

De onde vem?

 Não sei você, mas nesse momento, me sinto profundamente cansada. Quando digo profundamente é que sinto como se cada pequena estrutura do meu corpo tivesse exaurido a tentativa de manter-se. Meus músculos doem como os de quem viveu milênios e eu mal fiz 30 anos, minhas articulações esquecem-se de lubrificar e tenho que ficar lembrando-me de fazê-lo. Me sinto uma velha. Sinto dor. Sinto muita dor. "Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar".