terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Da presença.

Acalmaria.
A calmaria.
A calma ria.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Curuminha.

Que quando...que quando nada, só comecei assim porque era como que você gostava que os meus textos começassem, quando você ainda vinha aqui. Eu te conheci semente, Curuminha, perdida dentro de uma casca estranha a si mesma que você havia criado pra se proteger do mundo. Vi a sua mente germinar e crescer, verde e sem fim, te vi florir, eu te vi quase morrer pelas raízes. Mal de planta que cresce pra cima e esquece de crescer pra baixo, a vida tem dessas. Dizem por aí que nós só damos valor às pessoas depois de perdê-las, mas não sou eu que sempre perco por dar valor demais? Se, de todas as pessoas, você foi a que eu acreditei que ficaria apesar de tudo, é virtualmente, enquanto chovia e algumas pessoas menos importantes (algumas tão importantes quanto) mudavam seus destinos pra me abraçar, que você me fala de uma amizade-montanha como se tudo estivesse explicado (o sumiço, o desatenção, o desamor), Curuminha? E as tantas noites, as tantas horas, as brincadeiras, os desabafos de anos de vida, os segredos cortantes, os porres de tequila e vidro? Depois de tanto, tudo se resumiu a nos pensarmos, mundos de distância, e acharmos que assim nos cultivamos? Eu já vi esse filme, Curuminha. Eu já vi você se ocupar de uma dor e esquecer que você, enquanto isso, também é capaz de provocar uma dor dilacerante. Espero, ao menos, que dessa vez você esteja se ocupando de alguma coisa mais bonita, pra minhas lágrimas valerem a pena. Não é chateação, eu não estou com raiva. Isso que eu sinto é uma mágoa tremenda, de você e de mim. Mas, mais que isso, é uma dor intensa por ter me perdido de alguém de quem eu não queria e eu não podia me perder. Por ter, de alguma forma desesperada, visto uma das minhas pedras mais preciosas se transformar em carcaça de navio naufrado. Por ter dado e perdido mais um pedaço do meu coração depredado.

"Recuperar as noites, curuminha/Que atravessei em claro/Ignorar teu choro/E só cuidar de mim".

sábado, 8 de outubro de 2011

Texto insuficiente.

A verdade é que tenho te escrito algumas coisas nos últimos tempos, mas nenhuma delas me pareceu até agora boa o suficiente pra merecer um espaço aqui, porque você parece sempre merecer mais. Você tem sido o grande momento, a espera diária, a sede insaciável, a força pra aguentar dias que parecem mais e mais intragáveis. Você tem sido, dia após dia, a coisa mais doce, a mancha mista de desejo preocupado e carinho violento que me arde na garganta e me acalma quando nada parece fazer sentido e eu penso em simplesmente pegar uma carroça pra algum lugar esquecido, onde eu possa me esquecer. Que quando tudo parece perdido e eu me sinto fria como uma pedra preciosa, você sorri e o meu sangue volta a correr, é quando as flores da mesa de jantar começam a cantar. Me deito no seu peito, como se nada mais pudesse me tocar além das suas mãos e deixo minha pele 'quasefundir-se' à sua. A gente perde a hora e o foco, e o primeiro pensamento quando te levo até a porta e volto para o apartamento vazio pulsando a você é "por que essas horas estão demorando tanto pra trazê-lo de volta?". São tantas mordidas e apertões e alfinetadas e "abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim" que eu fico o tempo inteiro maquinando formas de "acabar com esse negócio de você longe de mim", me perdoe o clichê. E às vezes eu embanano tudo e troco os pés pelas mãos. Às vezes eu te ponho sobre areia movediça nas minhas incansáveis histórias de passados distantes, mas não esquecidos, e só percebo que não te dei uma corda pra te manter à superfície quando você já está atolado até o peito. Não só por isso, eu te peço perdão neste amanhecer. Por essa e mais uma porção de coisas que só nós dois saberemos. Porque eu também estou (re)aprendendo a ser de alguém, a ser com alguém. Porque me falta um tanto do gingado e da "malícia" pra poder te mostrar o quanto eu me importo, o quanto eu te quero e o quanto do meu coração você já conquistou, apesar de tão pouco (pouco?) tempo. Eu não aceito, eu não quero, eu não posso machucar-te-me outra vez. Eu não vou. Porque você é minha "terra à vista" depois de tempo demais navegando ao Deus-dará. E eu senti muita falta de pôr os pés numa terra que desse flores.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Violão andaluz.

Hoje sinto uma vontade imensa de abraçar o mundo, e uma frustração ainda maior por não poder fazê-lo. Uma vontade, na verdade, de pôr o mundo no colo e ninar, um desespero de ser Deus (com letra maiúscula, única e onipotente) e tornar o mundo habitável, de gigantesca bondade. [...] É muito fácil se alienar dentro de si, meu amigo, eu me perco muito facilmente dentro de mim. E, como não sou de meios-termos, a Psicologia parece me deixar apenaas duas opções: abraçar o mundo com essa tentativa, que trouxe para minha vida, de acietação incondicional; ou desistir, tentar qualquer outra profissão que exija menos atitude de posicionamento, seria uma boa caixa de supermercado ou atendente de telemarketing. [...]Na sala em que estou agora um violeiro toca canções espanholas e a sensação que tenho é de que estou sendo mais uma nessa prateleira de bonecas iguais, quando poderia estar apreciando tanta coisa bonita que o mundo tem a oferecer.[...]Existem tantas músicas bonitas que eu nunca vou ouvir, tantos quadros que eu nem vou saber da existência, tantas flores que vão morrer sem que eu perceba o que querem dizer...E se existirem fadas? Nunca serei capaz de ir ao seu mundo? E passarei a vida inteira feito formiga operária, acordando todos os dias, fazendo o mesmo caminho até o banheiro, depois até o trabalho e do trabalho à minha casa para comer, dormir e fazer o mesmo no dia seguinte? E as dançarinas de tribos perdidas que jamais aplaudirei com os olhos brilhando? E as fogueiras que não admirarei sob a luz da lua? Não é a Petrolina que não pertenço, meu amigo, é a essa concepção de vida finita, de tempo que passa, de dinheiro. [...] Me diga, então, como será possível que eu continue esse caminho? Se viver e ver é tudo o que mais amo, como posso permitir que minha vida se limite e se molde às exigências das notas que pagam minha comida e meu conforto? [...] parece que já não é aqui que quero estar. Porque não é assim que meu coração quer se enterrar.
Um beijo-flor-angústia,
B.

domingo, 11 de setembro de 2011

Para além do coração partido.

Pra você, meu amor, meu cúmplice,
com todas as possibilidades do meu ser-abelha.

Essa noite, numa das viagens lisérgicas que tenho feito, encontrei você. Te encontrei como em nenhuma outra viagem, por mais que te procurasse, havia te encontrado. Você esteve ao meu lado a noite inteira e eu dançava fingindo não te ver, como se disso dependesse a sua estadia. Às vezes, você parava, com os olhos brilhantes, pra me assistir dançar. Em algum momento parei de dançar e fechei os olhos tentando ver as cores na minha cabeça, mas foi você que apareceu. Na minha realidade, ao abrir os olhos você estava a menos de um palmo de distância do meu rosto, me olhando com aquele seu quase sorriso de canto de boca, aquele quase riso que você guarda pros seus momentos mais carinhosos e que eu nem fazia mais idéia de como era. Eu não sei o que tem sido de você, exceto por algumas idiotices e um bocado de valores que me parecem distorcidos e que fico sabendo por acaso, quando escapa a algum dos nossos amigos. Espero, de verdade, que você tenha se encontrado um pouco. Que as pessoas tenham sido pouco cruéis contigo. E que você tenha sido menos ainda, porque a vida sabe ser um bocado cruel vez ou outra. A política do menor esforço é muito útil, eu também sei disso, mas em alguma hora, ela não vai mais valer a pena. Eu espero que você não deixe essa hora passar e não perca o trem pra ser alguém por quem valha a pena pôr o peito a risco. Você costumava ser um homem, no sentido mais enaltecedor da palavra, eu espero que você não tenha perdido isso para os estilistas consagrados ou nos affairs que não significaram lá muita coisa, ou até nos que significaram. Sabe, eu não quero ser aquela pessoa que, no leito de morte, pensa em tudo o que fez na vida e chega à conclusão de que fez tudo o que quis e de que tudo valeu a pena. Eu quero ser aquela pessoa que hora pensa: -Porra, eu vali a pena. Nós não somos pessoas fáceis, você sabe. Somos divertidos, falantes e cheios de piadinhas acerca de tudo, somos, de alguma forma muito transcendental, radiantes. Mas não somos fáceis. Por isso, eu quero sair dessa vida achando que eu, por mais confusa, exagerada, destrambelhada e sem noção que seja, fui uma daquelas pessoas pra as quais os deuses olham e pensam: -cacete, valeu a pena ter dado uma vida àquela criatura alí, ó. Espero que você ainda seja uma dessas pessoas, e se já não for, que você não perca o próximo trem, porque com tantas voltas que a vida dá, a gente nunca sabe onde é que vai achar uma estação de novo, né? Eu acabei de entrar no vagão, te seguraria pela mão, mas acho que já estamos indo para estradas muito diferentes. Talvez um dia a gente vá dar no mesmo lugar. Ou talvez tenhamos perdido a nossa chance de dividir um chocolate quente no vagão restaurante, vai saber. De qualquer forma, vou te reservar um lugar ao meu lado pra ver o mundo desabar, se você quiser a minha companhia.

E não, eu não vou te esquecer, porque eu não quero te esquecer, porque pensar em você me faz querer ser alguém melhor, porque pensar em você me faz querer ser incrível o suficiente pra ser mãe de alguém, de um bocado de alguéns. Eu não vou te esquecer, porque eu sei que você não quer que eu te esqueça [me avise se eu estiver enganada], porque eu não quero que você me esqueça também.
Eu te amo, e essa frase nunca soou tão singela quanto parece agora.
Sua A.R.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Psicologia da Família e ferrugem.

Daí que, sabe deus por que infernação, a tal da peruana pôs em letras redondas no quadro “A quem você ama?” e disse com aquele sotaque que até então eu estava achando tão bonitinho “mas, mais importante que isso, é responder: por que?”. Eu fiquei pensando “Sério? A essa altura do campeonato?”. Mas eu não disse nada, claro que não, àquela altura do campeonato eu tinha duas opções: responder ou não o exercício. Respondi três linhas falando da minha família, mais três falando dos meus amigos e então ele surgiu. Desenhei seu nome em caneta vermelha, como poucas vezes ousei fazer nos últimos dois anos e tanto. Mas por que diabos essa mulher tinha que sair da terra dela pra vir causar reboliços nos sentimentos de gente daqui? Não tinham corações por lá não, ô? Ok, era o nome dele desenhado, virgulado e um “porque” esperando do outro lado da vírgula. Só do outro lado da vírgula, já que na minha cabeça não circulava um motivinho sequer. Escrevi lá umas quatro ou cinco linhas de mentiras, só pra me enganar que consegui. A verdade é que não sei. Talvez porque ele tenha cravado sua bandeirinha em meu coração. Talvez por isso tenha feito tantos furos, vai ver meu chão não sustentava sua bandeira e ele teve que cravá-la à ponta afiada em vários pontos antes d’ela se fixar e dançar ao vento seus olhos estampados. Talvez pelo sabor neurótico de não conseguir, ou não querer conseguir, mais ser de outrem. Talvez porque eu seja uma dessas criaturas esquisitas que tocam a vida com o coração partido demais pra se permitir transcender e esquecer, pra tocar pra outro. Talvez isso nem seja amor, seja o brilho que restou de quando fui estrela. Ah, é bem provável que isso não seja amor, deve ser só uma lembrança que eu trouxe dos meus tempos de Lua.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Amo-te uma vírgula!

Amo-te muitíssimo à revelia.
Amo-te, muitíssimo à revelia.
Amo-te muitíssimo, à revelia.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sua sorte é que não lhe falta amor de graça.

Existem pessoas pelas quais você atravessaria o mundo se recebesse uma ligação simples que dissesse ‘eu preciso de você aqui’, mesmo que isso significasse horas de silêncio e choros convulsivos. Essas pessoas chegam às nossas vidas das formas mais variadas e nos conquistam às vezes em um único sorriso. É a elas que você encontra por acaso todos os dias no fundo de um pote de biscoitos caseiros ou dentro da gaveta de calcinhas. Algumas delas nem sabem o quanto importam pra você, e algumas sabem, mas simplesmente não entendem como isso aconteceu. Tudo bem, você também não entende. Mas é simples e grande e diário, e não importa que você passe meses, anos, sem saber delas, você vai atravessar o mundo para encontrá-las se algum dia precisarem de você por perto. Menos ainda importa que haja reciprocidade nesse sentimento, você sabe o significado de ‘amor de graça’. E podem ser amores românticos, perdidos, amigos, ex-amigos (daqueles com os quais você teve uma briga homérica e com os quais nunca mais falou), podem simplesmente ser pessoas que passaram na sua vida e, por algum alinhamento dos planetas, ficaram em você, na parte de trás do seu joelho direito ou no seu labirinto [tantas coisas a gente esquece no labirinto]. Você sabe que abandonaria todo e qualquer compromisso, todos os seus planos, viagens e reservas num Resort em Cancun para estar lá, não importa para que. Hoje eu queria citar o nome de todas essas pessoas aqui, para que cada uma delas soubesse que eu iria à China por elas se fosse preciso, sem esperar nada em troca e com o coração aberto em flor de cerejeira. No entanto, protejo seus nomes por amor.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Pra manter as lágrimas na garganta.

"Por favor, não me empurre de volta ao sem volta de mim, há muito tempo estava acostumado a apenas consumir pessoas como se consome cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta no cinzeiro, depois vira na privada, puxa a descarga, pronto, acabou. Desculpe, mas foi só mais um engano? E quantos mais ainda restam na palma da minha mão?
Ah, me socorre que hoje não quero fechar a porta com esta fome na boca, beber um copo de leite, molhar plantas, jogar fora jornais, tirar o pó de livros, arrumar discos, olhar paredes, ligar desligar a TV, ouvir Mozart para não gritar e procurar teu cheiro outra vez no mais escondido do meu corpo, acender velas, saliva tua de ontem guardada na minha boca, trocar lençóis, fazer a cama, procurar a mancha de esperma nos lençóis usados, agora está feito e foda-se, nada vale a pena, puxar cobertas, cobrir a cabeça, tudo vale a pena se a alma, você sabe, mas a alma existe mesmo? E quem garante? E quem se importa? Apagar a luz e mergulhar de olhos fechados no quente fundo da curva do teu ombro, tanto frio, naufragar outra vez em tua boca, reinventar no escuro do teu corpo de moço homem apertado contra meu corpo de moço homem também, apalpar as virilhas, o pescoço, sem entender, sem conseguir chorar, abandonado, apavorado, mastigando maldições, dúbios indícios, sinistros augúrios, e amanhã não desisto. Te procuro em outro corpo, juro que um dia te encontro."
Caio F. Abreu.


Ando sem conseguir escrever uma linha sequer, então apelei. Perdoe.

domingo, 22 de maio de 2011

e eu queria te falar de frio, mas eu moro na zona do Equador.

quando por mais que você goste dele até entre os dedos da mão, ele simplesmente não pode te dar aquilo que você precisa e merece. quando mesmo que o seu coração fique aos farrapos e você só quer ligar e dizer que foi tudo mentira, que é tudo mentira, que você o ama e pode suportar qualquer coisa. quando você queria que tudo fosse mentira, que você pudesse suportar tudo por ele, porque ele põe mais cor no seus dias. mas você sabe toda essa força não duraria mais de uma ou duas semanas, porque ele não vai mudar, ele não quer ou não pode ou simplesmente não vai mudar. é quando você buscaria uma estrela e habitaria um novo planeta por alguém que não pode mudar a agenda por você. é quando você sabe que não é ele, é você. é você que precisa de mais do que alguém pode dar, é você que precisa de mais do que pode conquistar. e você sabe que o corpo vai apertar de saudade. mas saudade é o que tem pra essa encarnação.

sábado, 21 de maio de 2011

Dos dias.

Coma no chão da rua, coma na grama, coma na cama
ame quem não te ama,
não recuse balas oferecidas por estranhos
não dê esmola aos mendigos sem dizer obrigado
não chupe os animais,
não desobedeça aos seus instintos carnais.

[Gabriel, o pensador]

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Tua indecência não cabe mais.

[escrito em 12/05]

Da varanda observo as centenas de janelas acesas à minha frente. Janelas que se acendem e apagam independente do meu conhecimento sobre suas razões de ser e estar. Fico aqui saboreando esses ciclos vitais que conectam todos os seres humanos que passaram e passarão em minha existência. De repente as coisas já não acontecem meramente por acontecerem. De repente cada criatura tem um papel muito definido e inquestionável em cada espaço por onde circula. De repente, toda essa gestalt fica muito clara. Toda essa Gestalt que é a vida.

Viver é atemporal, é significação e ressignificação constantes, é pertencimento eterno. Repetição incansável também. Estamos parados no tempo, essa invenção engenhosa que nos mantém presos a essa concepção de vida passageira. As coisas não passam, as coisas ficam. De uma maneira muito diferente das pedras, mas ficam. Ficam ciclicamente. Ficam naquelas lembranças que vêm de algum lugar remoto, naquelas que você nem sabia que existiam. E se a vida for só uma dessas lembranças? E se estivermos presos no passado? Talvez de onde estejamos vendo tudo isso, já tenhamos consciência dos laços que todos esses acontecimentos formaram. Que a vida é rio passando por pedras e plantas, e terras até então desconhecidas, passamos e deixamos para trás para reencontrar uns grãos de passado-presente-futuro. E nós vamos minguando, deixando nossas gotículas por cada espaço onde passamos, até o fim. O fim que não é fim, já que as nossas gotículas continuam perdidas em encontramentos rio adentro. Viver é atemporal, a vida é um rio, em movimento no mesmo espaço-fluido.

[esse texto nunca vai chegar aonde chegou a minha epifania, mas é nessa trilha, mesmo que tudo isso pareçam idéias soltas e não sejam. o titulo foi porque eu comecei com a intenção de escrever sobre uma coisa e acabei mudando completamente de rumo, não quis trocar por pura teimosia, e pelo lembrete.]

PS: Não reli ainda, só vou reler depois de postar. texto cru, entendam.]

terça-feira, 10 de maio de 2011

Da resposta.

"Um ser simples.

Limite - parte ou ponto extremo; fim, termo. Talvez o Way of life que algumas pessoas escolhem seja não se preocupar, ou pelo menos, não querer se preocupar. Mas ser simples; um ser simples age naturalmente, evita naturalmente, aceita naturalmente, ri, chora, vive naturalmente; um ser simples, sabe que sente e mesmo assim não evita sentir, ele sente mais e o complexo que encanta um ser simples. Todo o demasiado todo o tempo não tem sentido pra um ser simples. Que vale ver todos os dias o lindo pôr-do-sol; pular 7 vezes na semana de paraquedas ou amar intensamente, ininterruptamente um ser não tão simples? Que valeria o pôr-do-sol sem os dias nublados? Que valeria o pulo de paraquedas sem o risco da queda? Que vale, enfim, o amor sem a inconstância?
Ser um ser simples é viver, é questionar, perquirir, ir além, e não questionar limites que é tão somente uma forma de limitar."

Da sala de espera.

Se você quer alguém que goste de você até onde convém, caia fora. Caia fora enquanto é tempo. Eu gosto inconvenientemente, sem respeitar limites e metendo o pé nas portas fechadas. Se você quer alguém que não se desmanche num beijo e não chore de saudade, alguém que não queira te exibir para as amigas, que não perca o controle e a hora, não serei esse alguém. Se é alguém que não se entregue que você quer, por favor, vá, porque eu já não ocupo mais esse lugar. Vá sem olhar para trás se é alguém bege que você quer. Sou vermelha, sou branca, sou azul-de-duas-horas-da-tarde. Se não lhe for possível abrir mão da zona de conforto de quem não tem a quem magoar, não vamos nos matar de tentar. Já não sou de gritar meus amores aos ventos. Muito menos de pedir-te para casar-se comigo. Mas não queira que eu seja mais incerta do que sou, não queira que eu não saiba o que sinto. Se não puder suportar essa minha forma, essa minha fluidez, então me corte, sorria e acene, porque meu mundo é carnaval, é incontrolável e vivo, é intenso e, mesmo exausto, incansável. Sou repetitiva, caprichosa e inadiável. Se você tem medo de ser amado grande e forte e dolorido, se você tem medo daquele preenchimento no canto esquerdo do estômago, não serei eu, vá. Vá, mas não faça muito alarde se alguém te achar um covarde.

domingo, 8 de maio de 2011

Da faixa limítrofe, na infinidade de um segundo.

Preciso ser franca esta manhã, então, perdoem o que for para perdoar do que lerem a seguir.
Preciso parar de agir como se soubesse quem sou, a verdade é que eu não faço mais idéia. E nós estamos sempre tão certos de que existimos em corpo e ação que a auto-afirmação se põe no mero sussurar das palavras "eu sou", mesmo quando não sabemos quem somos no agora (acontecência). Cheguei agora a pouco em casa, depois de uma noite inteira de gritos e pulos, depois de uma noite inteira de exorcismos. Me olhei no espelho e vi um amontoado de coisas aleatórias, sentimentos controversos, desejos desconexos, vi em mim um bagunçado de coisas que não eram minhas, e que tampouco deixavam de ser. Essa porção de conceitos e de convicções que me fez acreditar-me capaz de dissernir, joguei-a no chão, como às peças de roupa, jóias e uns tantos outros acessórios. Assim, despida de tudo aquilo que supostamente sou eu, escrevo-lhes aqui, vestida de mim. Já não tenho certeza de coisa alguma, tudo é possibilidade. Talvez por isso Descartes tenha se batido tanto para chegar a uma certeza absoluta. "Penso, logo existo". Tudo é possibilidade, tudo é relativo e toda realidade é questionável. O que torna real aquilo que alguém vê? A mera visão é argumento sem espaço. As coisas acontecem antes na vida ou em nossas mentes? [Toda realidade é realidade para uma consciência]. O que vai além é o que transborda ou o que cabe em nós? E o que vai além transborda ou cabe em nós?



[texto confuso de uma cabeça confusa]

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Elephant gun.

Shot. Hit me again.

Shot. Hit me again.

Shot. Hit me one more time.

Shot. Once again.

Shot. Shot. Shot.

Daí você dança e rodopia e se esbalda e cai e rola. Daí você grita e brinca e ri e canta. Daí você vive e esquece e os espinhos não doem. E as pessoas acham que você está radiante e linda e divertida. Na verdade, você está ali entregue, é toda a sua fraqueza que está dançando, não você. Não é você que ri ou canta, é aquela tristeza mais escrota, mais profunda, aquela que você não assume nem pra si, mas que dói todo dia, incansável, no canto esquerdo do seu estômago. E ela sapateia sobre o seu corpo e ri da sua impotência. E ela te leva a uns braços, pronta pra te jogar e, o que só o mínimo da consciência que restou a impede de fazer, implorar ou matar. E como ela sorri todo mundo acha que você bebe pra ser feliz, mesmo que você beba pra morrer.


[texto escrito um dia depois da Calourosa]

domingo, 3 de abril de 2011

de valores torcidos e distorcidos.

Preocupam-me as pessoas centradas, as que nunca gritam ou perdem a cabeça, as que nunca fazem coisas estúpidas. Preocupam-me aqueles que não dançam, muito menos em público, não ouvem música alta e não falam bobagens. Preocupam-me aqueles que nunca tomam um porre ou ficam high, aqueles que nunca querem mais do que é saudável e que nunca esperam mais do que qualquer outro. Preocupo-me com quem tem sempre os pés no chão e sempre quer o que pode ter, com quem é racional, com quem nunca pega o caminho mais longo só pra estar com alguém por mais tempo. Temo por aqueles tantos que têm medo do que os outros vão pensar e que calculam seus passos para não parecerem patéticos, por aqueles que querem fazer “o que é certo”. Preocupo-me com quem jamais passa do ponto e nunca fica ou parece desestruturado, com quem não se dá direito ao erro catastrófico e com quem não se machuca com coisas pequenas. Preocupa-me quem nunca desesperou por um motivo bobo, quem nunca se viu à beira do abismo da loucura, quem nunca saiu de si, pleno de raiva, amor, ciúme ou o que fosse. Preocupa-me quem leva a sério a moral e os bons costumes e quem acha que ter honra é “ser puro”. Preocupa-me que, neste mundo podre, tantos ainda tenham medo de se sujar. Deixem-me dizer, amigos, que nascemos sujos de lascívia, de desejo, suor, gemidos, palavrões, e do nome dos deuses de nossos pais sendo ditos em vão. Deixem-me dizer que nenhum de nós está livre da coisa fétida de desejar outro corpo junto ao nosso naquelas noites com cara de súplica. Que todos nós, cedo ou tarde, desejaremos uma ou outra voz a gemer-nos ao ouvido. Que, eventualmente, sentiremos vontade de matar ou de morrer, de fugir ou de dormir até nossos corpos virarem pedras. Então, quem quer que seja você que me lê agora, despreocupe-se/me e suje-se. Suje-se mais e mais, para que, talvez, um dia você possa dizer que está limpo ou, quem sabe, perceber que todo mundo está com as botas sujas de uma lama que só quem esteve lá vai saber de onde veio.