sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Eu ainda amo o meu ex.

Acabo de ser arrebatada pela lembrança do quanto o amei. Essa noite eu tive um sonho em que a outra moça me perguntava o que eu esperava dele, se eu esperava que ele ficasse comigo, mesmo quando já não sentia nada e amava outra pessoa. Me lembrei disso agora e fui tomada pela resposta doce do amor que eu sentia por ele. Será que é possível dizer "sentia" como se o tempo se encerrasse ali e a lembrança de sentir não fosse também sentir? O tempo é uma piada de mau gosto. É como se eu estivesse parada no ar do que aconteceu/acontece/acontecerá, o passado não pára de acontecer. Eu ainda amo os meus exs, todos eles, eu ainda viveria com todos eles, não fossem as circunstâncias nossas terríveis inimigas e desertos não se formassem entre duas mãos. Eu ainda amo meus exs e eu não sinto muito por isso, eu sinto orgulho. Eu sinto orgulho porque, apesar de tudo e de tanto, eu ainda amo.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Sonho lindo.

 Nunca vi o seu rosto antes. A sua cara de surpresa ou de vergonha me são completamente desconhecidas. Não faço a menor ideia de como é o teu sorriso, ou de como sentiria a espinha acender ao tocar as suas mãos. Eu nunca te vi antes, mesmo que tenhamos trocado confidências e toda uma vida durante meses. Eu não sei onde te dói, mesmo que você tenha chorado no meu colo, e que eu tenha te coberto com o meu amor. Olhar pra você não significa nada, mas meses atrás eu falei que faria qualquer coisa para estar ao seu lado. Você não significa nada, ainda que eu tenha te dado tudo o que eu poderia dar de mim. Foi pouco. Eu devo mesmo ser pouco. Parece uma piada de mau gosto o tanto que eu te amei. E você sequer tem coragem de me dar boa noite. É triste ter dado tanto pra alguém tão pouco.

sexta-feira, 30 de junho de 2023

No air.

 A saudade de você fazia o meu braço direito queimar. Essa ardência foi se expandindo pra a minha cuca até não sobrar mais espaço pra nada. Passei a fumar um cigarro toda vez que a sua ausência me fazia doer. Eu me odeio por ainda amar você. E assim eu virei fumante aos 32.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Eu fui completa e perdidamente apaixonada por você, e o tempo correu maratonas no meu peito enquanto eu construía castelos em cima de areia movediça. O seu nome pode ter sido Daniel, Roberto, André, Carolina, Pedro, Kauam, Weslei, Eduardo, Felipe, Lucas, Alexandre, Diego, na verdade não importa. O fim da história é sempre o mesmo: mais um amor pra engolir a seco e guardar naquela mesma gaveta, como se fosse mais uma das contas de luz que já foram pagas. De tanto entulho, a gaveta emperrou e hoje a ideia de ter que colocar mais alguma coisa lá parece estapafúrdia. O meu peito -esse saco de areia- não tem mais couro pra ser socado. Estou cansada, os dias seguem uma corrente de tristeza que passa lavando todo raio de luz que ouse romper a própria casca. "As lágrimas que não se choram esperam em pequenos lagos? Ou serão rios invisíveis que correm para a tristeza?". Quero ir embora de mim, toda essa umidade está me afogando. 

segunda-feira, 22 de maio de 2023

 Pra onde escoam os amores que já não se pode mais viver?

terça-feira, 2 de maio de 2023

Demais.

Sempre ouvi as pessoas falarem da minha intensidade - muitas vezes romantizando e achando bonito, o que eu sempre odiei, porque dói - pensando que eu apenas expressava de uma forma diferente sentimentos que todo mundo sentia em algum momento. E em algum nível é isso mesmo, mas hoje vejo que é demais. A forma como sinto e sou atravessada pelo mundo na maior parte do tempo é, de fato, intensa demais. Quando os atravessamentos são em lugares menos vulneráveis da minha existência eu aprendi a transformar em arte, em palavra, às vezes em movimento, mas quando as minhas feridas se abrem são capazes de engolir o mundo e tudo se torna um grande redemoinho de profundidades sombrias e, como diz a minha mãe, excessos. Eu sou demais e, de tanto ser, me canso. Os amores intermináveis que ficam empoçados no meu peito pesam toneladas. Às vezes é preciso anestesiar, como aquela peridural que precisei tomar pra não sentir tanta dor na coluna. Ser muito pesa nos quadris. É lindo quando o céu está azul e eu sou um passarinho voando em círculos só por diversão, e é terrível quando vem a tempestade e eu sou um papel de bala amassado sendo levada pela água suja através das ruas da cidade. "A vida é muito longa" e ser tantas numa vida só é uma dádiva e uma maldição. Será que uma hora aprendo a magia da transmutação, essa alquimia de transformar dor em beleza e aceito que a vida apenas seguiu seus caminhos? Será que algum dia abranda essa coisa de tanto sentir?

domingo, 31 de julho de 2022

O show tem que continuar

 Tem sido extraordinariamente exaustivo. Encarar a minha falibilidade tem sido desesperador  sete dias por semana, vivo à beira do colapso. Talvez eu tenha me acostumado a ter facilidade em tudo ou apenas não costumava ter esse grau de exigência comigo mesma. Ser perfeccionista nunca foi um problema, mas é um imenso problema. Tenho estado deprimida, ainda que fazendo o que minha alma me pede pra fazer, sem arrependimentos. Me sinto meio Dorian Grey olhando o próprio retrato roído dos vícios. Tenho tantos vícios... Noite e dia me pergunto como as outras pessoas conseguem apenas aceitar o que é e se satisfazerem enquanto eu sou viciada nas faltas, nunca estou contente. Se eu soubesse um pouco mais, se inventasse um pouco mais, se eu fosse muito mais... Me sinto superficial, oca, minúscula. Faço más fofocas sobre mim o tempo inteiro pra mim mesma. "Você viu o que eu fiz naquela cena? Como pude?" Não me deixo em paz um dia sequer, sou minha pior inimiga. Os elogios, jogo-os pelo ralo, ninguém é capaz de ver a verdade além de mim, grande narcisista que sou. Meus demônios estão todos no palco, dançando ao meu lado, mas ainda assim sigo protegida. A guerreira que me guarda e me habita me dá suas bençãos mesmo quando dificulto tudo. Preciso melhorar, por mim e por ela. Estou cansada de quem eu tenho sido.

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Posso te falar do medo, do meu desejo, do meu amor.

 De fato, não é fácil ser braba todo dia. As araras na minha cabeça ganharam essa batalha me levando à exaustão. Not enough, not enough, not enough - grasnam o dia inteiro -, não é possível que eu não posso fazer melhor. Never enough. Tenho tomado surras e mais surras do cansanção da autocobrança. A pior parte é que sou eu a espancadora e eu... Ah, eu sei bem me bater onde dói. "Nobody said it was easy, no one ever said it would be this hard". Seria impossível contar as vezes em que ouvi "é muito difícil viver de arte no Brasil", isso todo mundo já entendeu. O que ninguém avisou é que seria difícil viver arte nesse corpo-país que sou eu. Por que ninguém me avisou da neurose do artista, da ansiedade, da sensação de "eu não sirvo pra isso" mesmo quando "isso" é o que desejei de corpo inteiro por toda a vida? Por que ninguém me falou que dói tanto que nos faz perder o sono, a fome, o brio? Como a adolescente que fui, cega de amor e medo, tateio jardins e ruínas em mim, grandes palacetes, salas de tortura, uma imensidão que me engole todo dia de manhã e me cospe, mastigada e semidecomposta ao fim da noite.

domingo, 27 de março de 2022

Point of no return

Às vezes a gente finge que dá pra voltar, pra desver, pra passar por cima do insight tido. Às vezes até tentamos voltar atrás, correr de volta pro útero dos dias, onde ainda havia a chance do óvulo temporal não encontrar o espermatozóide das percepções, quando ainda era possível nos fazermos de tolos. Não posso mais, agora é tarde, Inês (ou a velha Bárbara?) é morta, minha alma clama por arte. Toda aquela busca (quem sou eu?) me trouxe até aqui, à beira desse penhasco. Essa alma que anseia tocar e ser tocada, que se alimenta de beleza e fantasia, que, mesmo sem permissão, serpenteia cantando e que faz da vida espetáculo circense não quer mais deixar o spotlight. Aquela euzinha dentro de mim já não grita mais desesperada, ela se junta a mim para abrir as cortinas. Me sinto inteira. E linda. E, enfim, encarando o abismo mais assustador: admitir que se eu não for arte, eu prefiro a morte.

domingo, 21 de novembro de 2021

Dos tantos tantos homens

 Estou aqui mais uma vez chorando sofregamente por um desses amores que nunca aconteceram. Dois encontros, mais nada, e o peso de tudo que poderia ter sido fica sobre minhas costas como uma tonelada. Meu coração criança fabrica estórias sempre sem fim diante de todo encantamento. E eu desejo tanto... Cada mínima centelha de mim queima em amores que não vivi, a dor das minhas costas, o rasgo na minha perna, tudo canta o preço de querer o amor em demasia. Fica essa sensação quente arranhando a minha garganta de um canto de amor que não pode ecoar e crava as unhas no meus pulmões e laringe, tentando abrir espaço nos tecidos. É preciso parar essa magia cujos sapatos vermelhos calcei, eu preciso parar a música no meu peito, apagar as luzes do palco, mandar todo mundo embora. Eu estou cansada, quero fechar os olhos, pode ser apenas por uma década.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Da drusa de lágrima.

 Se chegar à beira do precipício, não se precipite. 


Nem toda chuva é de lavar.

terça-feira, 13 de julho de 2021

"Li num poema que a vida vale a pena"

Sempre me esqueço de celebrar. Ia dizer "às vezes", mas não seria verdade, me esqueço quatros vezes por semana, sem contar aos sábados. Me esqueço frequentemente de amar os amores que amei e nos anseios de não acabar, os lamento. Vestida do reticente tecido da ansiedade, firo-me de seus/meus próprios espinhos sem lembrar das flores que desabrocharam na semana passada. A palavra pesada nas minhas pálpebras -eu amo você-, tantas vezes sussurrada entre sorrisos e beijos, vira ácido nas minhas retinas de ver mentiras. E enganada (ou desenganada) por mágoas que inventei (ou desinventei?) mergulho no lodo de uma rejeição que sofri quando eu sequer existia. Findo o dia, não cantei os beijos siderais e os sorrisos de regar jardins, não coloquei uma maçã com mel na terra e sequer mostrei os meus seios ou as minhas pernas à lua cheia. Quem sou eu agora, que não danço aos pés de uma cachoeira e que sequer tento romper o cheiro do tempo pra refazer a beleza dos dias azuis-cegueira (ou cegonha)? Invés disso, faço e refaço a conta dos deuses, e cobro, a ponta da faca apontada aos céus, como se a lâmina cigana fosse capaz de furar o bucho do universo e lhe arrancar o filho, por pura vingança de quem perdeu o seu próprio feto recém agarrado ao útero. Não festejo o momento mágico do toque de mãos e aquele espaço luminoso onde olhos abriram clareiras sem saberem em minh'alma. Esqueço que sou eu a feitora da magia do amor que planto e vejo germinar nos terrenos menos férteis, tantas vezes mangueira plantada em deserto. Como se Afrodite se enraivecesse e cansasse do amor, como uma flor que recusa a própria beleza e senta-se ao divã queixando-se: -Infernos, essa beleza me machuca, por que não sou cadáver?


Deixo de celebrar a mim, ao amor que sou eu, aos meus olhos que melhoram o mundo, à minha fantasia inventora de potências. Deixo de celebrar a eles, sóis de minhas estradas, brilhando cinco, quinze ou duzentos dias. Na minha mágoa de não ser cadáver, quase me esqueço que a vida é um poema.

sábado, 26 de junho de 2021

Kaos

 Como se uma década não tivesse se passado como se nada tivesse valido, seu toque em minha pele ainda faz o mundo parar. Ainda venero cada palavra que sai da sua boca, mesmo quando discordo dela, palavra sua que é. Há um desespero -meu ou da minha cadela? - de que tudo isso acabe, que nossas bocas de beijem, que nosso amor saia desse plano abstrato. Eu amo você como quem aperta o próprio corpo com medo de explodir de emoção. Te amo como quem teme e confia. Tudo inteiro, nada talvez. Você é tudo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Censurada

 (Es)corro em mim querendo banhar mais do que eu, respingo ao redor. Não caibo em mim - mentira, caibo sim, mas quero mais do que eu sou, quero o que está fora. Tenho desejos sem fim, de tocar, de provar, degustar cada coisa como a uma fruta madura, feito um beijo suculento, inesperado, tão sonhado... E me embriagar em cheiros, hálitos, hábitos... Tanto desejo que me pego a arranhar as pernas cansadas, tentando rasgar de mim as couraças. Desejo enlouquecer, perder cabeças - não só a minha -, desnudar o mundo numa grande orgia dos sentidos (físicos e existenciais).

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

De onde vem?

 Não sei você, mas nesse momento, me sinto profundamente cansada. Quando digo profundamente é que sinto como se cada pequena estrutura do meu corpo tivesse exaurido a tentativa de manter-se. Meus músculos doem como os de quem viveu milênios e eu mal fiz 30 anos, minhas articulações esquecem-se de lubrificar e tenho que ficar lembrando-me de fazê-lo. Me sinto uma velha. Sinto dor. Sinto muita dor. "Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar".