quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Do teto.

Para Lorena Granja, por quem tenho um carinho gratuito e um bocado maior do que eu esperava ter quando a conheci.


Fiquei pensando, na última noite, sobre a sua garota que deseja que o teto caia pra que o reconstrua. Fiquei cogitando os caminhos que a levaram a essa letargia, quase medo, quase sair correndo. Às vezes você me faz lembrar aquela metáfora do escanfandro com uma borboleta dentro, me intriga o por que de você ter se enfiado nesse escanfandro, mas isso não vem ao caso. Fiquei pensando em tetos e em quando o meu caiu.
Eu tinha um teto bonito, bem familiar, madeira e estrelas de plástico, ventilador. Nesses surtos que a gente dá quando se sente só, desparafusei o ventilador, mas o mantive no lugar, quem olhava achava que estava em perfeitas condições. Até eu, um dia, esqueci e o liguei. Com o ventilador, menina, vieram abaixo o teto e a casa, e eu...bem, fiquei fatiada. Fatias finas, ensanguentadas, doloridas de mim. Demorei um bocado para decidir refazer o teto e a vida. Refiz da minha forma armengada, mas refiz. No entanto, meu novo teto ficou fraco e toda vez que tentava um ventilador, tudo caía novamente em cima de mim. Perdi a conta de quantas vezes fiz isso.
Quando, essa noite, pensando no que você escreveu, olhei para o meu teto quebrado, vi uma estrela. No fim das contas, talvez eu tenha feito tudo errado e nada disso tenha a ver com refazer. Talvez todos os ventiladores tenham derrubado meu teto pra me mostrar que eu preciso mesmo é de uma clarabóia.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

11 desejos pra 2011.

1-Desejo que em 2011 as coisas não sejam tão difíceis e, se forem, que não nos deixemos tomar pelo desespero e pela letargia, que possamos seguir em frente, peito aberto, mesmo com as feridas em carne-viva.

2-Desejo que não só nesse ano, mas em todos os que virão se o mundo não acabar em 2012, que tenhamos tempo livre não para o tédio, mas para as pessoas que amamos. Que tenhamos algum tempo para nos entediarmos também, para que valorizemos a diversão.

3-Desejo que possamos viajar, se não para outra cidade, para dentro de nós mesmos e das pessoas que nos cercam; que tenhamos bons encontros, boas partidas e bons reencontros.

4-Desejo que andemos de mãos dadas com aquela pessoa, aquela única pessoa, que tendo aparecido ou não até hoje, é a quem gostaríamos de dar a mão.

5-Desejo que os beijos sejam doces, que os abraços sejam plenos e que os olhares falem coloridamente.

6-Desejo que a faculdade ou o trabalho sejam cansativos o suficiente para que, ao sentarmos em algum lugar com um amigo só queiramos falar bobagens, mas não tanto que pensemos em abandoná-los.

7- Desejo que nos apaixonemos pelas grandes sensações inesperadas e passageiras, que possamos beber de tudo o que elas podem nos dar; seja a intensidade de um cheiro, seja o calor provocado pelo sol que nesses dias parece castigar ao invés de acariciar.

8-Desejo que, pelo menos uma vez no ano, possamos ver a família toda reunida, mesmo que a sua seja cheia de picuinhas e desentendimentos, porque ver a família junta nos faz pensar no futuro que queremos para os nossos filhos.

9- Desejo que consigamos ir a bons shows, boas peças de teatro ou boates, bons restaurantes, sempre acompanhados de quem nos faz aquele bem danado. E que haja bons livros e que não nos falte dinheiro, porque mesmo que ele não compre felicidade, financia a nossa alegria, nossos quitutes e nossa bebida, seja água ou cerveja.

10-Desejo que, por mais brega que isso soe, possamos seguir o que dizem nossos corações, que sonhemos um pouco mais do que o de sempre, que nos declaremos, mesmo na insegurança, que sejamos verdadeiros com os outros e conosco, porque a verdade é que estamos tentando nos enganar o tempo inteiro.

11- Por fim, desejo que consigamos ser leves e deixar as coisas fluírem, que tenhamos fé na vida, porque sem fé, no que quer que seja, seja no inconsciente ou no comportamento, seja em deuses ou em gnomos, seja em você ou no destino, sem fé, não dá pra seguir. E eu desejo que nós sigamos.

No mais, que o Ano de 2011 seja pleno de qualquer coisa boa, que seja um ano pra ficar na gaveta de melhores memórias quando estivermos velhinhos. Feliz Ano Novo!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Every now and then.

Sua presença é a primeira flor a desabrochar na primavera dos sentidos. Os olhos como a imagem presente e incansável da criança que eu quero ter. Eu te vi crescer, meu menino, mesmo muitas vezes não estando lá quando você crescia. Degustei todas as suas estações, da raiva ao desencanto, da chance de um novo amor à aceitação da inevitabilidade das coisas entre nós. Sua presença é sempre a primeira folha a cair no outono, os beijos, as que a seguem, um a um, se acumulando sobre a terra. Adoraria ter-te todos os dias em minha vida, como um café ou um cigarro, mas sigo meu rumo, inabalável, sem a sua permissão para aportar. Em que homem você se transformou, patinho! Que homem lindo... Seus defeitos são adoráveis, e não é como mulher apaixonada que lhe digo isso, é como observadora atenta - e como vivo a observar-te! São tantos que poderíamos ter uma biblioteca temática para os nossos filhos, mas, incrivelmente, nenhum deles é realmente imperdoável, nenhum deles me dói quando seguro sua mão, nem a sua indiferença. Seus carinhos têm o tom mais terno, mesmo quando não é ternura que você quer demonstrar. Mãos frenéticas, boca entreaberta, olhos frios, nariz torcido, declarações de amor não-românticas, você me encanta, baby, você me encanta.


"De lembrar do punhal, da dor, do cheiro, dos seus olhos em mim, uma estrela que no céu se ofuscava."

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

N O W H E R E.

Como um estrangeiro em casa de ninguém, transito entre os mundos mais imateriais da realidade que não me engole, mas me cerca. Como o ser etéreo dos sonhos indecifráveis nas noites quentes de lençóis frios e incompletos, sabe-se lá de onde venho, sabe-se lá para onde vou ao fim da noite. Que dia e noite confundo e já não sei o que é fala ou o que é distorção. Sendo essa criatura que só se encaixa em sonho, sigo esses caminhos sem nortes, bailando suavemente com a solidão e indo à sacada para fumar um cigarro quando ela me cansa os ombros. Repassando a lembrança do único momento no qual pareci fazer sentido, passo os dias vagando na tentativa de descobrir onde, quando, por que fui perder o fio prateado do sonho. É que quando pareci fazer sentido, eu não era só um charuto, era qualquer coisa de intermédio que por um olhar viraria cigarro ou elefante. Mas o sonho me quis piteira, e piteira não me era possível ser, sou de gasto. E nessa inutilidade, meu sonho me fumou.


Sugestão: Antífona - Cruz e Sousa