quinta-feira, 28 de abril de 2011

Elephant gun.

Shot. Hit me again.

Shot. Hit me again.

Shot. Hit me one more time.

Shot. Once again.

Shot. Shot. Shot.

Daí você dança e rodopia e se esbalda e cai e rola. Daí você grita e brinca e ri e canta. Daí você vive e esquece e os espinhos não doem. E as pessoas acham que você está radiante e linda e divertida. Na verdade, você está ali entregue, é toda a sua fraqueza que está dançando, não você. Não é você que ri ou canta, é aquela tristeza mais escrota, mais profunda, aquela que você não assume nem pra si, mas que dói todo dia, incansável, no canto esquerdo do seu estômago. E ela sapateia sobre o seu corpo e ri da sua impotência. E ela te leva a uns braços, pronta pra te jogar e, o que só o mínimo da consciência que restou a impede de fazer, implorar ou matar. E como ela sorri todo mundo acha que você bebe pra ser feliz, mesmo que você beba pra morrer.


[texto escrito um dia depois da Calourosa]

domingo, 3 de abril de 2011

de valores torcidos e distorcidos.

Preocupam-me as pessoas centradas, as que nunca gritam ou perdem a cabeça, as que nunca fazem coisas estúpidas. Preocupam-me aqueles que não dançam, muito menos em público, não ouvem música alta e não falam bobagens. Preocupam-me aqueles que nunca tomam um porre ou ficam high, aqueles que nunca querem mais do que é saudável e que nunca esperam mais do que qualquer outro. Preocupo-me com quem tem sempre os pés no chão e sempre quer o que pode ter, com quem é racional, com quem nunca pega o caminho mais longo só pra estar com alguém por mais tempo. Temo por aqueles tantos que têm medo do que os outros vão pensar e que calculam seus passos para não parecerem patéticos, por aqueles que querem fazer “o que é certo”. Preocupo-me com quem jamais passa do ponto e nunca fica ou parece desestruturado, com quem não se dá direito ao erro catastrófico e com quem não se machuca com coisas pequenas. Preocupa-me quem nunca desesperou por um motivo bobo, quem nunca se viu à beira do abismo da loucura, quem nunca saiu de si, pleno de raiva, amor, ciúme ou o que fosse. Preocupa-me quem leva a sério a moral e os bons costumes e quem acha que ter honra é “ser puro”. Preocupa-me que, neste mundo podre, tantos ainda tenham medo de se sujar. Deixem-me dizer, amigos, que nascemos sujos de lascívia, de desejo, suor, gemidos, palavrões, e do nome dos deuses de nossos pais sendo ditos em vão. Deixem-me dizer que nenhum de nós está livre da coisa fétida de desejar outro corpo junto ao nosso naquelas noites com cara de súplica. Que todos nós, cedo ou tarde, desejaremos uma ou outra voz a gemer-nos ao ouvido. Que, eventualmente, sentiremos vontade de matar ou de morrer, de fugir ou de dormir até nossos corpos virarem pedras. Então, quem quer que seja você que me lê agora, despreocupe-se/me e suje-se. Suje-se mais e mais, para que, talvez, um dia você possa dizer que está limpo ou, quem sabe, perceber que todo mundo está com as botas sujas de uma lama que só quem esteve lá vai saber de onde veio.