quinta-feira, 29 de julho de 2021

Da drusa de lágrima.

 Se chegar à beira do precipício, não se precipite. 


Nem toda chuva é de lavar.

terça-feira, 13 de julho de 2021

"Li num poema que a vida vale a pena"

Sempre me esqueço de celebrar. Ia dizer "às vezes", mas não seria verdade, me esqueço quatros vezes por semana, sem contar aos sábados. Me esqueço frequentemente de amar os amores que amei e nos anseios de não acabar, os lamento. Vestida do reticente tecido da ansiedade, firo-me de seus/meus próprios espinhos sem lembrar das flores que desabrocharam na semana passada. A palavra pesada nas minhas pálpebras -eu amo você-, tantas vezes sussurrada entre sorrisos e beijos, vira ácido nas minhas retinas de ver mentiras. E enganada (ou desenganada) por mágoas que inventei (ou desinventei?) mergulho no lodo de uma rejeição que sofri quando eu sequer existia. Findo o dia, não cantei os beijos siderais e os sorrisos de regar jardins, não coloquei uma maçã com mel na terra e sequer mostrei os meus seios ou as minhas pernas à lua cheia. Quem sou eu agora, que não danço aos pés de uma cachoeira e que sequer tento romper o cheiro do tempo pra refazer a beleza dos dias azuis-cegueira (ou cegonha)? Invés disso, faço e refaço a conta dos deuses, e cobro, a ponta da faca apontada aos céus, como se a lâmina cigana fosse capaz de furar o bucho do universo e lhe arrancar o filho, por pura vingança de quem perdeu o seu próprio feto recém agarrado ao útero. Não festejo o momento mágico do toque de mãos e aquele espaço luminoso onde olhos abriram clareiras sem saberem em minh'alma. Esqueço que sou eu a feitora da magia do amor que planto e vejo germinar nos terrenos menos férteis, tantas vezes mangueira plantada em deserto. Como se Afrodite se enraivecesse e cansasse do amor, como uma flor que recusa a própria beleza e senta-se ao divã queixando-se: -Infernos, essa beleza me machuca, por que não sou cadáver?


Deixo de celebrar a mim, ao amor que sou eu, aos meus olhos que melhoram o mundo, à minha fantasia inventora de potências. Deixo de celebrar a eles, sóis de minhas estradas, brilhando cinco, quinze ou duzentos dias. Na minha mágoa de não ser cadáver, quase me esqueço que a vida é um poema.