sábado, 24 de dezembro de 2016

Sobre o ponto neutro.

É preciso falar sobre a parede branca. E se fosse amarela, e se não gostasse do tom que escolhi? Ao menos não gostaria do vivido, ao invés de ignorar a tabela de cores possíveis. De que medo fala a parede branca? Do fracasso, da investida ou da traição dos sentidos? De qual deles não fala? Por trás de todo tom de rosa, turquesa ou azul royal há uma superfície branca que alguém resolveu pintar, d'outra forma permaneceria lá, ready for the taking, mas flutuando no tempo e espaço, no stand by, no não é nem deixa de ser. A parede branca é a suspensão da escolha, a desconfiança, o não-dito, não sentido, não vivido, é o suspiro antes do beijo, contenção de despesas emocionais, o punho que não calejei, o risco que não corri nua na praia. A parede branca é o não antes da tentativa, é a auto-anulação, a impossibilidade auto-infligida, a vida passando depressa demais.


Pra ler ouvindo "Jura secreta", na versão da Zélia Duncan.