sábado, 24 de dezembro de 2016

Sobre o ponto neutro.

É preciso falar sobre a parede branca. E se fosse amarela, e se não gostasse do tom que escolhi? Ao menos não gostaria do vivido, ao invés de ignorar a tabela de cores possíveis. De que medo fala a parede branca? Do fracasso, da investida ou da traição dos sentidos? De qual deles não fala? Por trás de todo tom de rosa, turquesa ou azul royal há uma superfície branca que alguém resolveu pintar, d'outra forma permaneceria lá, ready for the taking, mas flutuando no tempo e espaço, no stand by, no não é nem deixa de ser. A parede branca é a suspensão da escolha, a desconfiança, o não-dito, não sentido, não vivido, é o suspiro antes do beijo, contenção de despesas emocionais, o punho que não calejei, o risco que não corri nua na praia. A parede branca é o não antes da tentativa, é a auto-anulação, a impossibilidade auto-infligida, a vida passando depressa demais.


Pra ler ouvindo "Jura secreta", na versão da Zélia Duncan.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Sobre escolhas e o fim da graduação (vocês estão prontos pra poder?)

Encontrei esse texto revisitando um antigo caderno, escrevi pouco depois da minha formatura(quase dois anos atrás agora) e ele ainda me contempla.

Formei-me. Na realidade, deformei-me. Não, sigo me deformando. Desse período da universidade, levo cicatrizes de formação, alguns bons conflitos encontrados em prol de entrar na forma. Nessa travessia me coloquei em lugares e relações que me enformaram e engessei-me em posições tão dolorosas que sair da forma tem sido um trabalho exaustivo. Por que internalizei tantos maus agouros? Verdade seja dita, esse curso que escolhi parece estar superlotado de almas agourentas (tais como nos filmes de terror em que um espírito monta em suas costas). Almas que, tal como a minha, passaram por esse triturador de sonhos que alguns insistem em pensar serem dados de realidade. Essa não será minha realidade, lamento. Não, não lamento nem por um instante a escolha que fiz. Escolha que fiz quase que intuitivamente, sem de fato saber do que se tratava. Escolha que fiz diariamente, pensando em deixar para trás a cada espinho da mau agouro que rompeu minha pele. Continuei sem saber bem porque continuava (e sabendo exatamente porque), com medo, com raiva, me debatendo na forma. Tenho feito o exercício diário de quebrar a forma em que tentei me colocar, quebro-a de dentro para fora, lentamente, lembrando sempre que esse fracasso não é meu, que esses agouros, que tantas vezes ressoam em mim quando me distraio, não são meus. Só é meu o que quero levar e eu estou cansada de levar esse pessimismo que também não é meu. O que tem de mim é semente em terra fértil, quem vai regar e colher sou eu e eu ando desgostando de ervas daninhas. Vai dar certo, "a melhor hora pra chegar é a hora em que se chega".