segunda-feira, 25 de maio de 2009

Diabos, eu te amo!

Não sei do que ainda me toma todos os dias e que alimenta este maldito parasita que trago em meu peito.Antes tivesse minha alma vendido a Satã para tê-lo ou esquecê-lo de vez.Verdade é que já não tenho escrúpulos, prazeres ou boas maneiras, e que a permanência desta criatura pulsante toma mais espaço em meu corpo a cada dia.Já não há segredos do quanto sua vida é melhor sem mim, nem nada se esconde do quanto ela não tem sentido nem graça enquanto não me tem.Já não podendo ser inteira, a parte de mim que vaga nem é mais capaz de simular contentamento.Torno-me diariamente uma pedra de resignação que, conhecendo as cores de Almodóvar, adota as de Tim Burton.Tantas vezes tive chances de atirar-me de montanhas e pontes sem a menor chance de sobreviver e não as agarrei.Gostaria agora de saber o gosto que teria a água no fundo daquele rio suiço ou se eu também viraria fumaça pulando da cachoeira na qual só estive por três vezes, mas que por tantos anos de minha vida adorei e em cujo abismo sem fim mergulhei trazendo sempre do fundo o que havia de melhor em mim.

Sinto falta do cheiro de terra nova e da sensação de ter todos os ancestrais à minha volta sorrindo e entoando os cantos de uma Natureza sagrada.Sinto falta das flores, não de vê-las, estão por toda parte, mas de ser parte delas e de sentí-las como parte de mim.Sinto falta de ser uma árvore e de correr pelo mundo como um felino brincalhão.Sinto falta da paz, e harmonia se tornou uma palavra tão distante quanto me foi natural um dia.Sinto falta do equilíbrio.Sinto falta de mim, da umidez do ar, das minhas folhas verdes, da minha alma.Mas, mais que tudo, mais que de mim, sinto falta do Capão, como se me faltasse o fôlego.

Tenho vivido de excessos, não nego.Da felicidade ao sofrimento, incluindo álcool e cigarros, tudo tem sido excessivo.Talvez porque o excesso tenha um quê de preenchimento que eu tenha tornado necessário à medida que a memória e o efeito das montanhas diamantinas se foram desgastando.De excessivo nesses dias o que assumi foram a apatia e a incompletude.Sobre o amor, eu já nem comento, sabe-se que, se dele não morrer, nada mais me matará.Na verdade, comentarei sim, um pouco à frente, em seu devido lugar e tempo.

A maior parte do tempo, sinto como se não estivesse em mim, como se estivesse inconscientemente empurrando a vida com a barriga.Deixo que os dias passem por mim sem me afetarem, como se em nada pudessem me acrescentar.Deixo, não, FAÇO com que eles passem por mim da forma mais rápida e indolor possível, já que se alguma folha das que me restaram balançar agora, tenho a sensação de que cairei inteira.Corram, dias, corram.


Finalmente, de amor.
Vejo aquele castanho frio todas as noites quando o cansaço me toma e preciso dormir; quanto a isso, passo os dias num misto de desejo e medo, torcendo para que a noite chegue e rezando para que não venha, porque aqueles olhos são a minha única forma de vida e são a minha morte.Apego-me a todo e qualquer sinal de que haja ainda nele qualquer forma de pensar em mim e disso depende a minha vida.Tenho por ele alguma forma de carinho que ultrapassa a mágoa e a morte.Aprendi com ele a diferença entre a divindade do amor e as bobagens de paixão e desejo.E nem dessas banalidades de querer chego perto por outro alguém, estou no fundo daquele meu poço de líquido vermelho e borbulhante esperando qualquer coisa que me traga de volta à superfície.Lembro ainda dos cheiros que têm todos os cantos do seu corpo, do gosto e da textura deles.Lembro de cada cravo que espremi e dos que deixei lá e que talvez ainda me esperem, lembro de cada curva muscular, de cada expressão facial, de cada tom de voz, de todas as formas de riso, de quando não sabe o que fazer ou dizer, do brilho de paixão nos olhos, dos sussurros, do 'eu não quero deixar você ir', do tom da pele.Penso nele até o limite da loucura, se não já o ultrapassei sem perceber.E esses pensamentos me tomam com uma ternura da qual eu jamais imaginei que fosse capaz.E se, ao menos, ele soubesse o que eu sei sobre nós...Mas ele não sabe.Ele não viu o Farol da Barra às onze da manhã, não olhou pra baixo na Cachoeira da Fumaça, ele não viu a orla de Petrolina depois de virar a noite vivendo de amor, ele não viu o que eu vi em seus olhos nem ouviu o tremor da sua voz.Ele já viu muitas coisas e lugares e muitas das coisas e lugares mais importantes que vi, foi ele que me mostrou, mas pra ele passou batido, por isso até hoje ele não sabe.Um dia, talvez, no lugar mais idiota, ele perceba, mas quanto tempo será que isso vai tomar?Até lá, ele não vai entender nada do que eu diga, por isso eu não vou dizer até o limite do suportável.E quando eu explodir num "DIABOS, EU TE AMO!", que ele 'me perdoe, eu não sei o que faço', eu não aguentei.

Je t'aime tellement, pardon, je ne peux pas plus.Pardon, pardon...

"-Por que traiu seu próprio coração, Catherine?Você me amava.Então, que direito tinha de abandonar-me?A pobre fantasia que sentiu por Linton.Nada que Deus ou Satã nos impusessem, iria nos separar.Você, por vontade própria fez isso.Não parti seu coração, Cathy.Você o traiu e partindo-o, partiu o meu.
-Se assim fiz...estou morrendo por isso.Você também me deixou.Mas eu o perdôo.Perdoe-me.
[...]
-Sim, eu perdôo o que você fez comigo.Vou adorar minha morte, mas a sua...como poderei?"
Em O Morro dos Ventos Uivantes(filme).

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