terça-feira, 25 de agosto de 2020

Ao menino dos olhos encantados II

(nem acredito que foi assim que te identifiquei 10 anos atrás, tantas vezes a gente sabe antes de saber... só descobri quando acabei de escrever o texto a seguir)


É que no bojo do encanto, inadvertidamente atravessei um portal para o mundo fantástico da tua energia. Atravessado, meus olhos te encheram de diamantes e todos os aromas de tua pele e de teu hálito preencheram cada espaço do meus pulmões. Desse etéreo conhecimento, submergi em mim e nas águas que coloriram-se de ti. Tudo converge para o exato momento em que ritualizamos, sem saber, aquele instante. Toda música, todo olhar, cada respiração como que uma sinfonia dos sentidos, tudo inteiro, tudo tudo. Como aquela música que fica se repetindo na cabeça, cada toque, cada movimento do seu corpo reacontece na minha memória várias vezes ao dia. Como quem canta atravessamentos respiro teu cheiro, agora já se perdendo, como no grande silêncio depois da fogueira, cheiura no peito de quem cantou a plenos pulmões uma noite inteira. Todas as cores em ti, cores que vi lá no nosso primeiro encontro, tantas vidas atrás, explodiram como caleidoscópio no nosso primeiro beijo. Por alguns instantes, nossas peles fundidas e a experiência da transcendência fizeram-me antes de ser minha, ser nossa, como deus e o universo, tudo éramos nós. Todo entendimento, toda certeza, toda a vida existente estava alí, na borda da tua pele, na massa dos nossos corpos feitos de estrela. Eu bem falei das minhas ganas de engolir o mundo.


Vez em quando ainda me assusto quando os caminhos da magia se apresentam assim, sem firulas, num contato despretensioso. Sigo com medo, movi uma magia imensa que jamais achei que seria capaz de acessar. O que mais me assusta é que anseio por tocá-la (e tocá-lo) novamente.

Nenhum comentário: