Querido professor, lhe trago esta maçã mais como uma oferta de Lilith que como um agrado.A maior parte das coisas que você lerá nas próximas linhas em nada lhe acrescentará, mas ainda assim, elas esperaram o semestre inteiro para sair de mim.Digo-as apenas aqui, covardemente escondida por trás das teclas que impedem que fiquemos os dois ruborizados e fugitivos cara-a-cara(ficaremos, inevitavelmente, mas sem precisar assumir um para o outro, então).Há um tipo de brilho em seus olhos que poucas vezes vi noutros (se é que já vi), é um misto de sagacidade e meninice com mais alguma coisa indefinida que faz com que pareçam desmontar constelações inteiras num breve piscar.São olhos de alma.Não, não olhos 'da alma', olhos DE alma.Tem pessoas que quando nos olham parecem estar absolutamente ocas, como se nada do que viveram houvesse ocupado qualquer espaço em seu olhar, você não.Você tem olhos tão cheios, tão cheios, que a alma inteira parece ter se depositado naquele ponto de luz que eles emitem enquanto você divaga sobre umas boas ironias filosóficas.Há também, sem nenhum respeito, um tanto de erotismo neles.Por que?Onde?Como?Eu não sei de onde vem, mas que há, -pelos céus!- há, e é mais do que o suficiente e o saudável para nós, pobres mortais que o cercamos.
Sem falar no quê de teatralidade, que me diverte e prende, em seus movimentos.E no distanciamento ético que faz com que todos esses meus pensamentos soem meio ridículos e fora de contexto.Além disso tudo, para fazer par com os olhos, o sorriso às vezes o faz parecer um menino travesso que acaba de aprontar uma armadilha e só está esperando que alguém caia nela.Tem as mãos bonitas também, muito, muito brancas, e sandálias de couro(*-*).
Mas, apesar de todos os atributos encantadores acima citados, tem uma coisa que chama ainda mais atenção e eu juro que não vou falar do sotaque(hahaha).É a aura de paixão que o encobre quando se perde em uma linha de raciocínio sem perceber que carrega uma sala inteira junto.
Então, senhor Marcelo, perdoe-me a ousadia, mas tu, com tuas viagens, foste um dos meus poucos motivos para acordar sorrindo às quartas e sextas por um semestre inteiro.
Um comentário:
Bárbara, estou tão emocionado que creio que devia aguardar o dia seguinte para te responder. É tarde, acabei de chegar de uma aula noturna, mas vou me permitir escrever já que, desde o final da tarde, sentia uma chama, um chamado, que só agora sei donde provinha.
Suas palavras, que não têm nada de inconvenientes, emocionaram-me profundamente. Li, reli, rereli a postagem com uma alegria espantada, como se tivesse sido alçado aos céus. Gratifica-me incrivelmente saber que o professor e as aulas adquiriram tal magnitude. Vejo que meu esforço e cuidado para que minhas palavras compusessem um discurso claro, instigante e tão belo quanto possível não foram em vão, mas ressalto que nada disso seria possível se não encontrasse à minha frente a inteligência, a abertura e a sensibilidade que você sempre encarnou.
Um beijo, Marcelo Centauro.
PS: Posso publicar sua postagem no Armadura de Vento?
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