quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Do fundo dos olhos.

o que fazer quando você se torna um abismo tão grande e a sensação que tem é de que nunca pára de cair de si?é que a própria queda [leia-se eu] não pára de cair, como o silêncio não pára de calar e a morte não pára de morrer.é agora como se eu fosse infinita em minha finitude e não parasse de findar, sem fim.e não há desespero em minha queda, nem há passagem, caio parada no mesmo lugar, talvez você não consiga conceber esta idéia, mas ainda assim, é uma queda imensa e interminável.não há também o desespero por estar caindo, não há desespero da água caindo na cachoeira, é natural, é da essência: a água é a queda d'água, eu sou a queda do abismo do qual só eu posso cair.

2 comentários:

Samory Santos disse...

Você é K. e sua queda é o Processo, nas mãos de Kafka.

Espero que não haja nada além de colchões (apesar destes doerem tanto quanto chumbo, em alta velocidade) no fim do abismo que apenas tu podes e cais.

Marcelo Centauro disse...

Bárbara, minha cara, é só pra dizer que foi bom te reencontrar no msn, embora muito rapidamente. Perdoe-me pela pressa.

Sua postagem, enigmática para mim, lembrou-me "Os Poderes Infernais" do Drummond:

O meu amor faísca na medula, / pois que na superfície ele anoitece. / Abre na escuridão sua quermesse. / É todo fome, e eis que repele a gula. // Sua escama de fel nunca se anula / e seu rangido nada tem de prece. / Uma aranha invisível é o que tece. / O meu amor, paralisado, pula. // Pulula, ulula. Salve, lobo triste! / Quado eu secar, ele estará vivendo, / já não vive de mim, nele é que existe // o que sou, o que sobro, esmigalhado. / O meu amor é tudo que, morrendo, / não morre todo, e fica no ar, parado.