quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Da exaustão de ser.

Às vezes me canso de ser eu e queria ser outra, com outros gostos, outra dor, outras histórias pra contar. Às vezes eu queria ter me ferido em outras coisas, amado outras pessoas, de outra forma, noutro ritmo. Talvez ter inimizades, mas por deus, quem tem inimizades hoje em dia? Eu teria. Eu teria outros hobbies, talvez skydiving...? Outros amigos, outros assuntos em comum. Teria desejos de errar outros erros, de cair noutras armadilhas, de me enredar em outras teias de estúpidas ideias sobre a vida. Quem sabe eu iria pra academia todo dia e me alimentaria saudável, ou talvez eu escrevesse uma tese sobre alguma especificidade minúscula - e absolutamente indispensável - da Física. Poderia ser militante de alguma causa, ir a manifestações e saber o nome de cada líder de cada setor de algum partido. Ou destruir vidraças de bancos e lançar coquetéis molotov em viaturas. Talvez eu fosse uma reacionária e fizesse vídeos no tik tok sobre "a forma correta de se comportar como uma mulher de valor" ou fosse um desses meninos que nunca estiveram com uma mulher falando sobre todas as "coisas broxantes que uma mulher pode fazer". Talvez eu não sentisse tanta dor nos joelhos. E respirasse sem esse peso no peito. Talvez eu tivesse me mudado pra Chapada Diamantina, onde o ar é mais puro, talvez eu nunca tivesse começado a fumar. Talvez eu estivesse trabalhando num lugar insalubre e mal remunerado -como a maior parte dos brasileiros - pra sobreviver. E eu me perguntaria outras perguntas, me alegraria com outras vitórias, sentiria tesão em outras curvas. Talvez eu não tivesse onde dormir, ou pra quem ligar, ou como ligar. Talvez estivesse em alguma esquina, cansada de mim e desejando ser qualquer coisa que não eu.

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