quinta-feira, 4 de julho de 2024

Despair.

 Eu costumava ser umas daquelas pessoas encantadas que vêem sempre a beleza e a magia no amor. Eu via sempre cor e movimento, a música da vida ecoava dentro de mim como um tambor, eu amava de corpo inteiro. Eu costumava achar que valia a pena lutar por isso. E eu lutei. Eu lutei até não ter mais uma gota de sangue correndo no corpo. Eu lutei até a morte se instalar terrível e definitivamente no meu peito. Meu corpo, antes tão forte, tão ígneo, agora é cemitério, com seu silêncio e sua dor, vidas e mais vidas enterradas no que poderia ter sido, mas não foi, não é, não será. Quanta perda cabe no chão do meu corpo? Passo os dias, como numa esteira de aeroporto, entre despedidas intermináveis. É preciso ir embora todos os dias ao acordar, e tem dias - quase sempre - em que eu só queria poder ficar, me deitar no seu peito e descansar da luta. Será que um dia as feridas de facas nas costas se fecham? Será que algum dia posso voltar a andar olhando pra a frente? Será que quero? Aqui, de frente para o precipício, parece melhor me deixar cair. Foda é que eu já caí antes, e a queda não é tão boa quanto promete.

Nenhum comentário: