terça-feira, 18 de março de 2025
Prato (de veneno?)
Sou eu, então, o monstro. A serpente devoradora de almas de pobres homens indefesos. Podres homens indefesos. Eu, tantas vezes vendida, rendida, fiz por merecer o escárnio e o corte da adaga com que me afaguei a pele. Eu, que por escolha ou por destino, me coloquei tantas vezes, a cabeça a prêmio, lânguida e mansa, sonhando amores dos quais só tive a ponta. Eu, que tantas vezes me entreguei e me deixei cair sem realmente ver o chão da queda. Sou eu, então, o monstro. A pele gasta, já fina de tanto trocar, de tanto morrer e ter que, sozinha, me renascer. Sou eu, então, a górgona, o minotauro, o frankstein. Eu, que tantas vezes amorosa abri o peito para espadas desembainhadas. Eu, que tantas vezes me ofereci - o orgulho, a honra, a vida - em sacrifício achando que assim salvaria o amor das crueldades do masculino. Sou eu, então, que sou cruel e egoísta. Sou eu, então, o monstro sem coração.
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