segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

"As lágrimas que não se choram esperam em pequenos lagos?" - Pablo Neruda

Esse ano me atravessou numa enxurrada. Tenho ficado ao sol, pra ver se seca tanta água empoçada no meu peito. Me sinto coberta de lama, lama seca, secando. Hoje dancei numa cachoeira e senti os pedaços de barro caindo do meu corpo, abrindo a minha pele de volta. Sinto que estou me curando, sinto que estava doente, profundamente doente, de traição, de saudade, de exílio. Esses dias acordei de madrugada com uma música de péssima qualidade, terrivelmente alta, às 4h da manhã. Sorri, cantei, eu conhecia a música, eu estou em casa, fiquei horas acordada ouvindo, sorvendo, me nutrindo como uma espécie de súcubo cultural. Eu sinto a minha estrela brilhando aqui. É pouquinho, no meio do meu peito ,subindo em cascata invertida até a minha testa, mas ela brilha. E limpa. A cada dia que durmo e acordo aqui, me sinto mais limpa. Ainda estou amarga, "só que agora é diferente...". Onde não queres nada, nada falta. Parece que um pedacinho do meu lado direito do corpo começou a adocicar. Tem um cacho do meu cabelo que está a um milésimo de segundo de se transformar em flor. Um riso que eu dei hoje de manhã está a um decibel de alcançar aquele rasgo no canto direito do meu coração. Tenho recebido abraços, tenho -recebido- abraços, tenho recebido. Aqui eu não preciso dar nada, ninguém me rouba nada, aqui eu posso receber. Recebo então. E agradeço. E me curo. E me lembro. Aqui me lembro que ainda amo. Que por trás de todo ácido, ainda amo. E se acende aquela centelha. Aqui eu volto a ser missionária do amor. 


Mas volto em baby steps, porque lá parece que desaprendi a andar/amar.

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