terça-feira, 2 de maio de 2023
Demais.
Sempre ouvi as pessoas falarem da minha intensidade - muitas vezes romantizando e achando bonito, o que eu sempre odiei, porque dói - pensando que eu apenas expressava de uma forma diferente sentimentos que todo mundo sentia em algum momento. E em algum nível é isso mesmo, mas hoje vejo que é demais. A forma como sinto e sou atravessada pelo mundo na maior parte do tempo é, de fato, intensa demais. Quando os atravessamentos são em lugares menos vulneráveis da minha existência eu aprendi a transformar em arte, em palavra, às vezes em movimento, mas quando as minhas feridas se abrem são capazes de engolir o mundo e tudo se torna um grande redemoinho de profundidades sombrias e, como diz a minha mãe, excessos. Eu sou demais e, de tanto ser, me canso. Os amores intermináveis que ficam empoçados no meu peito pesam toneladas. Às vezes é preciso anestesiar, como aquela peridural que precisei tomar pra não sentir tanta dor na coluna. Ser muito pesa nos quadris. É lindo quando o céu está azul e eu sou um passarinho voando em círculos só por diversão, e é terrível quando vem a tempestade e eu sou um papel de bala amassado sendo levada pela água suja através das ruas da cidade. "A vida é muito longa" e ser tantas numa vida só é uma dádiva e uma maldição. Será que uma hora aprendo a magia da transmutação, essa alquimia de transformar dor em beleza e aceito que a vida apenas seguiu seus caminhos? Será que algum dia abranda essa coisa de tanto sentir?
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