domingo, 25 de outubro de 2015
Sobre a urgência de ser comum.
Me considerei sempre uma daquelas pessoas interessantes, sempre cheia de livros e músicas e reflexões sobre a vida, o universo e tudo mais. Costumava pensar em mim como uma daquelas pessoas sentadas nos bares do Rio Vermelho sempre discutindo sobre alguma coisa inteligente, cheia de opiniões relevantes sobre os mais diversos temas. Acontece que mais do que tudo isso, eu aconteci. E por mais opiniões que tenha sobre os mais diversos temas, pouco me interessa nesse acontecimento que eu sou hoje discutir sobre a mais nova abstração da moda. Explodam-se Caetano, Chico, Bethânia, explodam-se Hitchcock, Goudard e Glauber Rocha, fodam-se García-Marquez e Milan Kundera, Platão, Nietzsche, Freud, Neruda e o caralho a quatro, sequer aceito o contrassenso de estar escrevendo sobre isso. (Fato é que se não escrevo, pra onde vai?) Talvez escreva pra me fazer compreendida, como se simplesmente ser não fosse suficiente, pareço estar justificando essa novidade, como que pedindo permissão para ser o que já sou e o que posso também ser além de tudo. As multidões nos últimos anos têm me mostrado tanto sobre tanto e foi com a euforia que aprendi a viver cada vez mais livre, é com ela que me banqueteio e nela que me embrenho sempre que posso, nela sou milhares de músicas, gírias, danças, acontecimentos outros que não eu só. E a cada dia, sempre mais, quero ser multidão. A multidão com todos os ritmos cabíveis, com todo senso estético, com toda moda e ausência dela, com toda possibilidade de ser que cabe numa multidão, e o que não cabe na multidão? Hoje o que é multidão abarca tudo o que há em mim e nesses tantos outros eus que nos compõem, sem preconceitos, sem exigência de ser outra coisa, porque a multidão é. Simplesmente. E como ela me abraça, eu a abraço de volta.
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