domingo, 21 de dezembro de 2014

Drop.

Há tempos em que é preciso respirar fundo, submergir e aguardar que a onda passe, porque de outro jeito é pura embolada, é tomar caldo e ralar os joelhos na areia. Em outros momentos, é importante pegar carona na onda e nadar em direção à praia, senão você será arrastado cada vez mais forte para o fundo. Difícil mesmo é decidir o que fazer quando avistamos a onda vindo. Seria bom se na vida, como no mar, fosse fácil subir na prancha e furar as ondas, seguindo seu fluxo, mas sem submeter-se a ele, ter controle do seu corpo e simplesmente curtir a vista e a sensação do vento no rosto.

Histórico.

Lembrei hoje que, uma vez, quando eu estava no Ensino Fundamental, eu recebi um sms que dizia: "Se você tivesse deixado, eu teria ficado com você ontem no aniversário de xxx". Então, o que me lembro da história (o que já não é muito, visto que isso já tem pra lá de 10 anos de acontecido) é o seguinte: eu era completamente apaixonada por um garoto que eu considerava o meu melhor amigo, ele era bem bonito e tinha uma porção de outras garotas interessadas nele. Daí teve essa festa na casa desse outro menino e os casais começaram a se formar, o garoto com quem eu tinha dado o meu primeiro beijo ficou com uma das minhas melhores amigas, e como ele era primo desse garoto por quem eu era apaixonada, ficamos eu e ele conversando enquanto o casal se amassava. Lembro de ter percebido o movimento dele de querer se aproximar pra me beijar e tudo o que eu pensava é que ele estava querendo me ter como prêmio de consolação já que as outras garotas que ele queria verdadeiramente estavam com outros meninos. Na minha cabeça não era possível que ele me quisesse simplesmente por me querer. A verdade é que eu não sei quando tudo isso começou, quando eu comecei a me sentir incapaz de despertar o desejo e o amor de alguém, ou de mantê-lo, mas em algum momento emperrou essa tecla por aqui e esse sentimento se espalhou, feito erva daninha, na minha vida e em cada espaço da minha pele, da minha mente, da minha voz, do meu corpo. Tudo em mim inscreve que não sou alguém a ser amada, sou bicho sem par, está nas minhas roupas, nas minhas jóias, no meu olhar, não sou digna de amor ou de proteção. E assim, sedenta de amor e carinho e proteção, afasto, desde sempre, qualquer um de quem deseje tais coisas. E desconfio de que qualquer um possa estar disposto a se dar pra mim, porque eu sou esse alguém que só serve como resto de bandeja, aquele docinho quebrado que até quase o fim da festa ninguém desejou. E como acreditar que alguém por quem me apaixonei perdidamente pode retribuir um amor tão grande pra essa coisinha quebrada e sozinha no fim da festa que sou eu? E como poderia deixar que alguém ficasse comigo sendo isso? E se já não sou mais isso, e não sou mais isso, por que ainda sinto assim, ainda ajo assim, rejeitando o amor e o desejo da pessoa mais amada por não querer ser o prêmio de consolação? Por que é que é tão difícil pensar um dia ser prêmio principal, se talvez hoje já o seja?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

'bout everything.

Lucas Scott: You're the one who wanted to be non-exclusive. I'm just doing what you wanted.
Brooke: What I wanted? I wanted you to fight for me! I wanted you to say that there was no-one else you could ever be with and that you'd rather be alone then without me. I wanted the Lucas Scott from the beach telling the world that he's the one for me!
Lucas Scott: How was I supposed to know that?
Brooke: You just are.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Alô.

(...)Já não se encantarão meus olhos nos teus olhos,
Já não se adoçará junto a ti a minha dor,
mas para onde vá levarei o teu olhar
E por onde caminhes levarás a minha dor.
Fui teu, foste minha,
O que mais?
Juntos fizemos uma curva
Na rota por onde o amor passou.
Fui teu, foste minha,
tu serás daquele que te ame
daquele que corte em tua horta
o que semeei eu.
Vou-me embora.
Estou triste, mas sempre estou triste,
Venho dos teus braços
não sei para onde vou,
... do teu coração me diz adeus uma criança
e eu lhe digo adeus.

Pablo Neruda -Farewell e os soluços.

domingo, 14 de dezembro de 2014

O coração amarelo.

Quando perderam-se as palavras em minha garganta, que já não encontro sequer grunhido que não os gemidos de dormir? Sucessão de horas intermináveis, em que não toca o telefone ou o interfone, horas de nada seguido de nada temperadas com pitadas de cortes profundos na linha direita do meu trapézio. Que interrompa o silêncio um xingamento ou uma jura de amor, que alguma cor se dispa frente a mim, que meus vermelhos perderam o fôlego, ou a esperança. Que se interrompa em mim essa imensidão de células pulsando por sua voz de oxigênio ou que irrompa de dor até a morte o meu sangue entrecortado de desejos e saudades implodidas. Com que coragem você pode falar de amor, se desse amor escolheu a falta? De todas as escolhas, logo essa que é só areia descendo ampulheta abaixo e afundando toda possibilidade de nós?Algum dia fomos além de eu e você no seu amor? Algum dia fomos nós?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Se quiser falar de amor, fale com o Marcinho.

Tanto quanto o amor pode ser alavanca no lançar-se à vida, pode ser deslizamento de ribanceira, soltando despenhadeiro abaixo sonhos e esperanças de sorrisos a sós, melhores sorrisos a sós. E de repente, atirar-se de peito aberto, pode tanto trasbordar o rio de prazeres quanto "bater cabeça no fundo" ou na ponta de uma faca. O amor, como desdobramento de possibilidade, desdobra possibilidades cruéis de machucados violentos e inesperados, porque o amor é tão mais cego que o Stevie Wonder. E então, viver se torna isso, carregar esse punhado de dor e areia que descem goela abaixo como se cheirasse a flor esse buraco de nada rasgado no peito. Levanta-te e anda, diria Jesus. Mas sofreu Jesus de dor de amor? Curou Jesus uma dor de amor? Transformou em saúde a falta, os sonhos quebrados, o meio mundo de ilusões ansiando se tornarem reais? Transformou em beleza as praias nunca visitadas, as bebedeiras a dois nunca realizadas, as madrugadas intermináveis de aconchegos nos teus braços que nunca serão? E essa febre que os olhos pegam, essa dor no corpo que vem do fundo da alma, localizando sua saída bem na boca do estômago, na febre que a garganta assume também. Esse retalho que vira a alma, drenada, faminta até a última gota, esvaindo-se em desejos de amor e de carinho que jamais receberei. Você não entende nada do que eu digo, você não entende nada em mim.

"Tá legal!/É, e eu faço o quê com a nossa vida genial?/'Cê vai viver pra outra vida e eu fico aqui/Na vida que ficou em minha vida/Tão perto de mim/Tão longe de mim." -  Simone Saback. (https://www.youtube.com/watch?v=CqLEcfC6yg4)