Fiquei pensando, na última noite, sobre a sua garota que deseja que o teto caia pra que o reconstrua. Fiquei cogitando os caminhos que a levaram a essa letargia, quase medo, quase sair correndo. Às vezes você me faz lembrar aquela metáfora do escanfandro com uma borboleta dentro, me intriga o por que de você ter se enfiado nesse escanfandro, mas isso não vem ao caso. Fiquei pensando em tetos e em quando o meu caiu.
Eu tinha um teto bonito, bem familiar, madeira e estrelas de plástico, ventilador. Nesses surtos que a gente dá quando se sente só, desparafusei o ventilador, mas o mantive no lugar, quem olhava achava que estava em perfeitas condições. Até eu, um dia, esqueci e o liguei. Com o ventilador, menina, vieram abaixo o teto e a casa, e eu...bem, fiquei fatiada. Fatias finas, ensanguentadas, doloridas de mim. Demorei um bocado para decidir refazer o teto e a vida. Refiz da minha forma armengada, mas refiz. No entanto, meu novo teto ficou fraco e toda vez que tentava um ventilador, tudo caía novamente em cima de mim. Perdi a conta de quantas vezes fiz isso.
Quando, essa noite, pensando no que você escreveu, olhei para o meu teto quebrado, vi uma estrela. No fim das contas, talvez eu tenha feito tudo errado e nada disso tenha a ver com refazer. Talvez todos os ventiladores tenham derrubado meu teto pra me mostrar que eu preciso mesmo é de uma clarabóia.