Sou feita de pontas soltas. De dezenas de amores que não aconteceram, quase aconteceram, aconteceram pela metade e acontecem sem fim. Sou um punhado de interdições chicoteando o ar. Só por hoje, não. Só por hoje, não falo, não faço, não beijo, não peço aos prantos por uma xícara de qualquer coisa doce que faça um desses amores crescer. Sou feita de histórias que não consigo terminar em mim. Seguem acontecendo, doendo e doendo e doendo. Numa tarde de domingo, consigo transformar alguma reticência em beleza, mas nunca em ponto final. Nunca sei virar a página, escrevo cadernos e mais cadernos imaginários de e ses, e se ficasse, e se tentasse, e se eu tolerasse, e se eu fosse mais, ou menos, ou qualquer coisa que não fosse eu, e se ele fosse mais, ou menos, ou qualquer coisa que não fosse ele... Nunca termina o meu desejo de que fosse diferente, seja um novo ou velho nome, é sempre um "quem sabe na próxima?" e vou me enchendo até o refluxo de hoje nãos até que, no refluxo, transbordo solidão por todo lado. E nunca fico só, nunca. Pareço como que um imã e recebo sempre muito amor ou qualquer coisa que mimetize o amor, e vivo estacionada, confusa, perdida entre amor e solidão. E é sempre muito, é sempre demais, mesmo quando eu digo que agora sim, agora vai ser só o bastante. Nunca é só o bastante. Eu nem sei o que é o bastante. Me atropelo em avenidas intermináveis de sentimentos que disputam uma espécie de racha rasgando meu corpo de ponta a ponta até que não sobre qualquer farol de lucidez. A linha de chegada parece ser sempre o chão. Ando cansada das capotagens e de quedas livres, será que se, de uma vez, solto meu coração, esse lastro-âncora-rochedo, ou deixo que se espatife numa curva (de uma estrada que não seja de Santos), consigo então voar?